sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sem horas e sem dores...

(originalmente publicado em)
Rio de Janeiro, domingo, 24 de junho de 2007

"Bem vindos ao Teatro Mágico"

O local é a charmosíssima Lapa, região central antiga do Rio de Janeiro. A espera é longa, a fila extensa, mas em nenhum momento eu me perguntei se valeria a pena estar ali de pé por tanto tempo. Eu tinha certeza de que valeria cada minuto! E assim o foi! Ver a trupe do Teatro Mágico em ação é testemunhar o que há de melhor na arte cênica e musical brasileira!
E o Circo Voador foi uma belíssima surpresa para mim! Ver aquele público lindo, despojado, ora sentado, ora de pé, ora dançando, ora estático, embasbacado com os rodopios aéreos dos bonecos trapezistas, foi comovente! Era vida em movimento! Grupos de amigos que se abraçavam, longe da imobilidade de mesas e cadeiras fixas ao solo, e sim, harmonicamente colocados nas fileiras das arquibancadas, sem limites espaciais! Eram pessoas desconhecidas perto do palco, todas unidas com um só objetivo: curtir o show!
E que show! Injusto não fazer uma pequena loa à banda 3 Steps, que abriu lindamente a noite, com seus talentosíssimos instrumentistas, e um vocalista, no mínimo dono de uma simpatia cativante! Sonoridade que contagia, e uma paradoxal vontade de que o show deles acabasse logo, não por ausência de talento, mas por ser a atração principal que se esperava ver ali. Aliás, o desejo de que aquilo terminasse foi até talvez uma lástima por nesta noite o palco ser dividido (ou somado, como diria o Fernando do Teatro), e pela vontade de ver o mais breve possível um espetáculo dessa galera nova, dominando o palco do começo ao fim, com seu brilho próprio!
Mas então, finda a abertura, entra em cena o Teatro Mágico! Muitas cores, muitos gestos, muitas caretas, e muita, mas muita emoção! Suas letras fabulosas, sua musicalidade fantástica, o riso provocado, tudo, tudo ali era magnífico! Impossível deixar passar despercebido as homenagens ao Cordel do Fogo Encantado, ao Chico Science e sua Nação Zumbi, ao Marcelo D2... Impossível não se emocionar com a boneca trapezista escalando as fitas pendentes no meio de uma platéia fidelíssima, enquanto se ouviam do palco os versinhos singelos do Frente – “Everytime I see you falling I get down on my knees and pray” – musicados numa roupagem tão diversa da habitual.... Impossível não sentir saudade com o resgate de um “Superfantástico” que muitos ali esqueceram nas caixas de brinquedos em sua infância... Impossível não se emocionar com o discurso acerca da arte, que deve ser divulgada, ao invés de enclausurada nas estantes pedantes dos intelectuais burgueses...
A energia positiva que emanou do palco o tempo todo rebate em nossa cabeça, fazendo-nos sentir vontade de praticar o bem! E o medo de que cada música seja a última torna difícil piscar os olhos para que não se fragmente aquilo que gostaríamos de perpetuar! É um show que me fez lamentar por acabar! É um show que me fez lamentar por eu não fazer parte da trupe! É um show que me fez lamentar não poder seguir toda a turnê! Se foi aprovado? Com mérito e louvor!

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