quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tabuleiro BA - A Bahia de Todos os Sons

Desde que cheguei a esta cidade, pouco menos de quatro anos atrás, tive o privilégio de testemunhar momentos musicais memoráveis, como o show que uniu Virgínia Rodrigues e Naná Vasconcelos, em meados de 2007, no Rival Petrobrás, a apresentação de Zé Renato e Nina Becker no Teatro Carlos Gomes, e que eu quase perdi por causa de uma entrevista de emprego, em junho de 2009, além, claro, do das irmãs Soraya Ravenle e Ithamara Koorax cantando Dolores Duran, no SESC Ginástico, dentre tantos outros que integram a lista “Shows Inesquecíveis”...

Começou hoje no Centro Cultural Banco do Brasil o projeto “Tabuleiro BA – A Bahia de todos os sons”, que trará ao Rio, uma vez por mês, até junho, representantes da música baiana, como a já citada Virgínia Rodrigues, que tem sua apresentação agendada para 26 de abril, além de Lucas Santana, Márcia Castro, Jarbas Bittencourt, Pietro e Ronei Jorge.

Hoje tive a oportunidade de assistir à apresentação da Jussara Silveira, com participação – ou a cereja que dá o toque final no bolo – do Roberto Mendes, e posso assegurar que meu rol “Shows Inesquecíveis” ganhou mais um elemento!

O timbre da Jussara dispensa maiores comentários, e quem a ouviu sabe do que estou falando. Sua voz une de modo harmonioso o potente ao suave, o rouco ao cristalino, e resume musicalmente o conceito de versatilidade. Já no início, a cantora chama atenção pela sua postura elegante, trazendo canções lentas, com uma pegada jazzística reforçada pelos arranjos de Sascha Amback nos teclados e Marcelo Costa na percussão. O intimismo, que contou com uma boa interpretação de “Muito Romântico” (mas que não substitui a gravação da Célia em seu álbum “Faço no tempo soar minha sílaba”) encontra seu auge na devastadora composição do Arnaldo Antunes, “Contato Imediato”, lindíssima música até então minha desconhecida, mas pela qual me apaixonei instantaneamente, arriscando-me mesmo a dizer que foi a mais bela de todo o show. A ela seguiu-se uma “Marcianita” leve e animada, iniciando-se o que poderia ser considerado um segundo ato, mais despojado que o precedente.

Foi neste momento que Roberto Mendes subiu ao palco, resgatando os sambas de roda do Recôncavo Baiano, como “Quem pode mais, dona da casa, eu vim aqui”. Confesso que fiquei impressionado como, em alguns momentos seu timbre grave se metamorfoseava de tal forma, que assumia uma suavidade que me remeteu demais à voz do Gilberto Gil. Coisas da Bahia...

Destaque para a qualidade do som, que nos permitia escutar cada vibração, cada respiração, cada nota. Isso tudo com um cenário simples, em uma iluminação na medida exata!

No bloco final, chamou minha atenção a interpretação quase histérica – como realmente deve ser – da música “Dê um rolê”. E claro, não poderia deixar passar em branco o bis em dueto de Roberto e Jussara, com a canção “Massemba”, que teve seu compasso marcado pelas palmas do público, emendadas à ovação generalizada que seguiu paralela aos versos que resumem o ideal de cooperação na busca de uma sociedade mais justa: “vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas”. Inesquecível!