sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mudanças

Salvador, 27 de fevereiro de 2007, à 00:28.
Texto escrito em folha de caderno, postado ao amanhecer.

Às vezes o mundo tem um modo estranho de nos revelar que estamos vivos. Primeiro Carnaval na terra do acarajé, e confesso uma certa decepção ao constatar a realidade da festa. Esperei mais! Não que não tivesse sido divertido, pelo contrário, a mistura de ritmos, cores e povos, inerente a esta Bahia maravilhosa, permaneceu a cada dia, fazendo-me reconhecer minha própria identidade. Capixabaiano. Nascimento e convívio. Infância e vida adulta. Amor e amor! Dancei, revi amigos, matei saudades...
Percebi sangue corrente em minhas veias. Inclusive o sangue vertido dos ferimentos no meu rosto, nas minhas mãos... Uma surpresa desagradável, e ao mesmo tempo... Reveladora? Não. Não é bem esse o termo correto... Confirmativa? Isso! Uma surpresa capaz de confirmar que se eu não tivesse mais levantado daquele asfalto, eu teria perdido boas experiências. E por alguns momentos eu realmente desejei não ter levantado...
E então eu teria perdido a oportunidade de sentir o gosto confortante de um abraço (e algumas pessoas tolas acreditam que não são importantes para outras), não poderia ouvi-la falando com voz mansa (as ofensas mútuas já estavam me fazendo esquecer que ela possuía esta capacidade), não saberia mais como é a felicidade de receber uma ligação no meio da madrugada, com o único fito de dar "boa noite", com sua voz rouca - e linda!
Percebo então que o medo volta. E sinto-me satisfeito com este medo... Li em algum lugar que um homem sem medo é um homem sem esperanças... E eu voltei a temer! Fiz bem ao levantar daquele asfalto, ao esfregar os ferimentos com um papel embolado nas mãos sem sentir qualquer dor, ao ver um documento perdido no meu bolso, sem enxergar qualquer titular ao meu lado, sentindo por um longo segundo um calafrio descer pela minha espinha... No final um olho roxo é um preço muito baixo!
E eu pagaria outra vez, se fosse necessário!
E agora aguardo os dias darem adeus para ver o que a vida me reserva. Enquanto isso, vou seguindo - não mais tão normal - pois agora tenho trazido comigo um sorriso... Boa noite.

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