(originalmente publicado em meu perfil no Facebook, após ter sido atropelado em agosto de 2015)
Engraçado como umas
palavras têm peso maior que outras num relato. E não, isso não é, de forma
alguma uma crítica negativa, tampouco significa que eu esteja aborrecido. Mas,
apenas uma constatação de fato que me põe a pensar sobre o uso que damos às
palavras.
Percebo que as
pessoas parecem nunca ler a frase "estou bem". Ontem, sofri um
acidente, um atropelamento, e achei por bem informar à família, aos amigos, aos
colegas de trabalho, que havia acontecido. Mas, minha maior preocupação, antes
de tudo, era deixar claro que estava fora de perigo. Estava informando o fato,
mas sem querer preocupar quem quer que fosse. Relatei o acidente e escrevi
várias vezes "não se preocupem, está tudo bem". Mas, a sensação que
tive é que ninguém lê esta parte. Repito: não estou criticando. Recebi
imediatamente telefonemas desesperados de pessoas preocupadas com meu estado.
Nervosas, angustiadas, tensas, que me perguntavam a cada segundo se eu estava
mesmo bem e por mais que eu dissesse que sim, pareciam não ouvir e perguntavam
de novo e de novo e de novo.
Isso me pôs a pensar
em duas coisas: a primeira, vale a pena informar má notícia apenas por
informar? Apenas para que saibam que algo aconteceu, mas que não
necessariamente você esteja nas últimas? Não é a primeira vez que isto
acontece. Outra vez fui assaltado e relatei da mesma forma, enfatizando o
"estou bem", mas as reações eram sempre de quem só lia
"assalto" e "mão armada".
A segunda, e talvez
mais importante das coisas em que pensei, é o cuidado que devemos ter com as
palavras que escolhemos. Parece-me que as pessoas tendem a fixar mais as
palavras negativas que as positivas. "Acidente",
"ferimento", "atropelado", "assalto" têm um peso
maior na percepção das pessoas que "estou bem", "foi leve",
"não preocupar".
Puxo este gancho
para um outro assunto que debatia com uns amigos ainda ontem, cerca de uma hora
antes de ter sido atropelado: a sinceridade.
Algumas pessoas se
sentem vítimas por não serem compreendidas quando decidem ser "sinceras
demais". Não são poucos os relatos que vejo de gente se afirmando muito
sincera e de que isso costuma ser encarado como um defeito por muitos que não
compreendem a sua "qualidade de falar sempre a verdade".
Em minha singela
opinião, acho que a sinceridade também precisa ser dosada. Não a verdade a ser
dita, mas como se diz.
Muitas vezes,
grosseria e estupidez são distribuídas sob a alegação de "excesso de
sinceridade". E, sinceramente (com o perdão pelo trocadilho), acho isso
estúpido e grosseiro. Uma mesma verdade pode ser dita de várias formas diferentes e
é necessário haver uma dosagem nas palavras e nos tons escolhidos para dizê-la.
A vida nos coloca algumas vezes em situações em que a escolha é impossível. Não
há opção para dizermos algo a alguém de forma que a pessoa não se doa pelo que
foi dito. Mas, sempre haverá a opção para que ela não se doa pela forma como o
foi.
Sendo assim, pesemos
a intensidade das palavras antes de falarmos algo a alguém, acreditando-nos no
dever de sermos honestos. Se não tiver opção, fale algo que você não gostaria
de ouvir. Mas, jamais fale de uma forma que você não gostaria de ouvir.
Pensarei nisto se,
em algum momento futuro, eu me sentir na necessidade de relatar algum outro
fato ruim que, porventura, venha a me acometer.