domingo, 22 de março de 2015

A se perder de si

Entrou no táxi apressado, com a respiração ofegante, entrecortada apenas pelos tremores de suas mãos.
- Para onde, senhor?
- Para qualquer lugar onde não haja qualquer traço de autoconhecimento.
Parou em frente a uma espelunca, entrou sem olhar para os lados e sentou. Revirou o menu sem saber ao certo o que pedir. O garçom se aproximou.
- Por favor, alguma coisa, qualquer coisa, que me faça perder a consciência de mim mesmo e a capacidade de racionalizar. Mas, que me mantenha acordado e me permita voltar para casa. Não vi no cardápio.
- Algo mais, senhor?
- Dose dupla. Sem gelo. Obrigado.

sábado, 21 de março de 2015

Livros e Memórias

Limpar livros demanda um tempo bastante longo. Um dia inteiro, às vezes mais. Não que a biblioteca seja assim tão extensa. Mas, sentado com os livros nas mãos, é impossível resistir ao ímpeto de folheá-los...


É quando a mente se perde e vagueia para longe, por páginas já lidas em tempos distantes e que, quando relidas, trazem não somente o enredo ali codificado em signos impressos, mas outras estórias, algumas nunca escritas, e que dizem respeito somente a quem as lê.


Épocas distantes, outras nem tanto, pessoas que estiveram tão perto, algumas que deixaram de existir, sensações que aquelas palavras trouxeram em outros tempos e que, muitas vezes não identificamos mais como nossas (coisa mais estranha esquecer o que um dia se sentiu). Memórias e esquecimento de mãos dadas e um conjunto de sensações pulando páginas afora.


Todos deveríamos limpar nossos livros com uma certa frequência. Tirar a poeira das capas e da existência.