sábado, 1 de dezembro de 2012

A Bolsa de Valores das boas intenções?

Existe mesmo eficácia nestas petições virtuais? Como não me custa nada e me toma pouquíssimo tempo, assino todas que me chegam, seja para impedir a morte de rinocerontes na África, de homossexuais em Uganda, de crianças em trabalho escravo, et cetera... Mas, confesso que não acredito muito em sua real eficácia. E nem discuto aqui a possibilidade de que, por trás destes sites de petições, possam estar pessoas mal intencionadas, preocupadas apenas em obter nossos dados pessoais. Acredito mesmo que não é o caso e que os quem mantém tais sites estão de fato engajados numa causa justa.


No entanto, tenho a impressão de que esta medida acabará se tornando inócua pela possibilidade de facilitação do processo de luta. É tão mais fácil assinar uma petição virtual e acreditar que ela chegará a quem pode fazer alguma coisa pela causa do que ir à guerra. Sinto que vai acabar acontecendo um enorme acúmulo de petições virtuais direcionadas às pessoas que poderiam fazer algo, mas que não farão porque estarão ocupadas demais analisando cada causa que lhes chega por e-mail.


Afigura-se como uma espécie de bolsa de valores, nas quais as facilidades de ganhar dinheiro comprando ações de empresas que produzem riquezas podem se revelar mais atrativas do que a própria produção material de bens de valor. Até que tantos trabalhadores deixem as empresas para viver de aquisição de ações. O resultado é que, sem ter quem produza riqueza, as empresas inevitavelmente se desvalorizam, ocasionando a quebra de investidores em ações, que nada mais são que “bens virtuais”. O resultado disso são empresas falidas e investidores com títulos que não valem coisa alguma. A história tem 1929 para nos mostrar isto.


Da mesma forma, petições virtuais me parecem uma atrativa forma de combater um mal, apenas clicando num botão. O resultado disso é que em vez de irmos armados à África para matar caçadores de rinocerontes e hienas, vamos preferir ajudá-los com um clique. E quando todos decidirem apenas assinar petições virtuais, quem efetivamente estará em campo para colocar em prática as reivindicações? Haverá uma bancarrota das boas intenções pela falta de gente para cumpri-las?


Investidores da bolsa aprenderam que é possível continuar enriquecendo adquirindo ações, desde que não estejam limitados a isto e, por outro, participem mais ativamente na produção de capital que irá incorporar o real valor àquele título que adquire. Da mesma forma, pelo sim, pelo não, sou a favor e pretendo continuar assinando tais petições ou simplesmente clicando no compartilhamento de uma foto em redes sociais, na busca de solução para causas em que acredito. Porém, sou adepto da batalha efetiva e a não me acomodar acreditando que estas atitudes bastarão para tornar o mundo um lugar melhor.