quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Doutor é quem fez Doutorado!

Hoje me deparei com aquela velha discussão sobre Advogados merecerem ou não o título de Doutor, que não costuma me atrair. A verdade é que acho esta discussão de uma futilidade imensa e o único sentido para justificá-la, a meu ver, é uma vaidade desnecessária e ridícula dos Advogados, classe na qual me incluo.

Talvez em meados do século XIX fizesse algum sentido receber um título de Doutor, já que isto conferia a quem o portasse uma habilitação para lecionar. Hoje em dia há outros critérios mais precisos para a licenciatura de qualquer disciplina que seja e chamar um advogado de Doutor é um tipo de formalismo besta que satisfaz somente o ego ferido de um profissional desvalorizado em decorrência, não somente de um mercado inflacionado, mas principalmente, pela própria classe, já que seus integrantes, para não ficarem desempregados, submetem-se a salários vergonhosos de R$ 1.200,00, R$ 1.500,00 ou valores próximos a estes...

A pergunta que faço é: em pleno século XXI que diferença faz ser chamado pelo pomposo título de Doutor se isto se revelar apenas um rótulo, desprovido de qualquer conteúdo? Que estranho mecanismo é esse que coloca o Advogado como "Doutor" e o Professor com Mestrado, Doutorado, PhD e o Diabo a Quatro apenas como "Professor"? E o Administrador, o Economista, o Publicitário, o Comunicólogo, o Designer Gráfico? Por mais MBAs que tenham feito, por mais pós-graduados, Mestres e Doutores que sejam, continuam sendo chamados, quando não somente pelos seus nomes pessoais, apenas por "Administrador", "Economista", "Publicitário", "Comunicólogo" e "Designer Gráfico"?

Isso porque lá nos primórdios do Brasil Imperial decidiu-se que o Advogado tinha habilitação especial para dar aulas... Advogado lecionando? Com o péssimo uso do Português que muitos andam fazendo atualmente, deveriam antes ter vergonha de se declararem Graduados! E o que dizer de EXIGIREM serem chamados de Doutores?!

Sim, também sou Advogado. Reconhecedor da grandiosidade desta profissão. Admirador de quem realmente se empenha pela obtenção de justiça através da aplicação das normas. Envergonhado de ver tanta gente carregando consigo um diploma, sem ao menos saber ler e escrever corretamente, mas exigindo ser chamado de Doutor porque acredita, com isto, estar-se valorizando a categoria.

Desculpem-me os meus caros colegas, mas não concordo. Hoje os títulos de Doutor, Mestre, PhD, Bacharel, ou qualquer outro trazem ínsito um sentido que lhes é inerente e, por tal razão, justifica sua existência. Sendo assim, não me considero digno de carregar nos ombros o peso de ser chamado de Doutor apenas porque sou Advogado e apenas porque a letra morta de um Decreto obsoleto assim o definiu.

A lógica que permeia meu discurso é a mesma que me faz recusar terminantemente chamar um Juiz de Vossa Excelência! Se o estudo dos pronomes de tratamento me ensinou a tratar Juiz por Meritíssimo, é assim que o farei. E ainda com ressalvas, porque muitos não possuem qualquer mérito que justifique tal superlativo.

Então, por favor, Senhores Advogados, em vez de se preocuparem em creditar a si próprios um título vazio e desprovido de valor, conferindo-se uma pompa desnecessária e sem sentido, façam por merecê-lo! Qualifiquem-se e honrem seus diplomas! Doutor, para mim, é quem fez Doutorado.