sexta-feira, 23 de abril de 2010

As Primeiras Impressões

(originalmente publicado em)
Rio de Janeiro, domingo, 18 de março de 2007

Primeiro registro no Rio de Janeiro.
Texto escrito no Word, em 18 de março de 2007. 00:53.

É noite de sábado. E a seleção interminável de funk nos arredores da casa me faz sentir, não que estou no Rio de Janeiro, mas no Inferno. O que, sem dúvida é um comentário extremamente cruel, de minha parte, porquanto a última qualificação que posso dar aos últimos dias que se seguiram é infernal! Antes, estou vivendo após muito tempo (já tinha esquecido, inclusive), dias de uma paz interminável!
Primeiro, o susto! O pavor ante a revelação da realidade. O medo de viver pela metade mais uma vez... Confesso: não foi fácil! O desespero de achar que eu estava dando vida a fantasmas, a constatação de que tudo estava perfeito demais para ser real, a insegurança mais uma vez batendo à porta, e o pensamento turbado de que eu não conseguiria mais dar um passo além. Afinal, com quem eu estava falando?! Por quem eu estava tão disposto? Com quem agora eu conversava? E seus olhos lindos? Eu não os veria? E a mente rodopiava, enquanto lágrimas carregadas de morte rolavam pelo meu rosto. Quem estava ali?! Foi um golpe duro. Disso eu não tenho dúvidas. Mas a vida já havia sido tão travessa, que foi fácil driblar mais uma peça pregada! E então seguiu-se uma espécie de torpor, manifestação do superego sobre o id, com a ordem expressa de vencer os preconceitos! Sua voz rouca - e linda! - ainda me acalmava. A voz ainda estava lá! Devo admitir que muitos conceitos e preconceitos ainda perduram, mas esforço-me para derrubá-los a cada dia...
Então, mais um pequeno susto... Não mais em mim! Tudo já era assustadoramente adorável para que eu conseguisse me amedrontar ainda mais! Uma conversa rápida, tranqüila... "Mãe, pai, estou indo para o Rio de Janeiro..."
Uma tarde chuvosa, horas de espera, Sigur Rós e Beethoven sussurrando ao meu ouvido acalme-se, e assim o fiz. Então, algumas horas depois eu pisava no até então distante Rio de Janeiro.
Recepção calorosa, alguma tensão, logo desfeita, e a percepção de que as afinidades não iriam terminar após os olhos nos olhos... Não me peçam nomes, e rasguem todos os rótulos! Decidimos assim. Nosso contrato foi redigido! E que se danem as mentes pequenas e olhos míopes incapazes de lê-lo!
E hoje estou aqui, num sábado à noite, após uma longa caminhada por uma cidade outrora inatingível, na qual inesperadamente fui inserido! E as impressões... Ah, as impressões! Inevitáveis as comparações... Avenidas arborizadas, praias longas, mar azul, e lá em cima um Cristo - dizem que abençoando - mas não creio, talvez desejando um abraço, esperando com seus braços abertos até que nós, pequenos ali em baixo, percebamos a imensidade das coisas... E constatemos nossa diminuta condição!
Em cada canto, o novo e o antigo! O medo sempre à espreita. Nunca sabemos se estamos no caminho de um projétil desorientado que pode interromper em um segundo toda a magnífica percepção da beleza e do caos. Mas é inevitável esquecer o caos, quando a beleza se torna maior! Não se pode descrever se a cidade foi construída entre as pedras, ou se pedras simplesmente brotam do chão, emergindo de repente, e empurrando as casas e ruas para os cantos. A dor das favelas - as famigeradas favelas! - que crescem qual um organismo, um fungo, talvez, e que se alastra sem que ninguém conheça seu começo e seu fim, não retira delas o seu caráter de belo! Uma beleza triste, sorumbática, mas que não deixa de ser beleza! As ruas, tão pequenas vistas do alto, e prédios que mais parecem pecinhas de Lego, remontando talvez a minha infância, quando eu construía e destruía o que eu quisesse... Infância! É nela que penso quando ando pelas ruas deste bairro, a sensação de um lugar conhecido, no meu esquecido Espírito Santo, invade-me a cada esquina dobrada nesta Fábrica de Tijolos! O Sol, austero, castiga a cidade, condenando-nos (sim, sou parte daqui!) com os 40 graus. E eu achava ruim quando suava com os 32 graus habituais! Life is ironic! Como um moleque zombando de tudo, durmo no Oásis! Este cantinho sempre fresco, onde encontrei um refúgio, e onde todas as noites eu (re) descubro o que é a paz!
E assim, vão passando os dias, estranhamente fazendo-me crer que amanhã será ainda melhor que hoje (e tem sido!). Hoje até chove! E agora, aquele abraço que tanto desejei todos os dias, faz-se cada vez mais concreto! Carpe diem. Carpe noctem. Just carpe it.

Nenhum comentário:

Postar um comentário