Inicialmente, percebi que a mídia estava criando uma forte pressão com o
intuito de transformar em bárbaros os manifestantes, mostrando insistentemente
a ação de grupos isolados responsáveis por atos de vantalismo, atribuindo aos
próprios manifestantes a responsabilidade pelos quebra-quebras que,
infelizmente, tem se revelado frequente durante as passeatas. Posteriormente,
parece-me, as ações de vândalos ganharam contornos maiores e não necessitaram
do reforço dos meios de comunicação para aparecerem.
Ontem à noite, o Centro do Rio de Janeiro se transformou
em um cenário desolador com a ação desmedida dos brutamontes: fecharam o cerco,
encurralando manifestantes; estações de metrô trancadas, bombas de gás
lacrimogênio atiradas para dentro de bares, ônibus e até no pátio do Hospital Souza Aguiar!
Somando-se ao evidente interesse de mostrar de forma
exagerada as ações da turma dos bagunceiros, hoje se vê na Barra da Tijuca e na
Baixada Fluminense, que os protestos aparenetemente se transformaram em meras
desculpas para a ocorrência de saques, roubos, pancadarias...
O resultado disto tudo é um notório enfraquecimento de
uma movimentação que começou tão engajada, bonita e disposta a lutar por uma
causa justa. Quem não está nas ruas e assiste aos noticiários, tem medo de sair
de casa. Quem está na ruas, pronto para a luta justa, se desanima diante da
desordem que os vândalos ocasionam.
O que acontecerá depois disto? Será que, como meus
temores me assombravam, vamos voltar para a nossa vidinha de sempre, desistindo
de mostrar nossa força enquanto Povo? Vamos continuar reclamando de tudo,
desbafando em redes sociais, descontando em filhos, esposas e maridos os
aborrecimentos que juntamos ao longo do trajeto traçado entre o metrô lotado, a
fila do hospital, os aumentos de preços e o trânsito caótico? Vamos mesmo
redobrar a força dos políticos que estarão prontos para dizerem que sempre
estiveram com a razão, quando os manifestos se pulverizarem por não terem tido
qualquer razão palpável de existir?
Não é isto que desejo para o País. Não é isto que desejo para o Povo que, há menos de uma semana atrás, acordava de um sono tão longo. Será este Povo obrigado a viver novamente em estado letárgico crônico, reforçado pela falsa impressão de que nada adiantou e que tudo foi em vão? Será que o Povo deverá carregar consigo a mágoa decorrente das pequenas alas dissidentes, voltando cada indivíduo a olhar ara si mesmo, porque um bando de baderneiros transformou em patuscada uma briga que era séria?
Entendo que não. Parar agora só daria ao Povo um atestado de incompetência. Assinaríamos uma declaração de que somos apenas uma massa disforme que se acumula em vão para causar desordem. Uma massa que se desfaz porque uma semana depois – uma mísera e efêmera semana! – o fato de não termos conseguido almejar o que queremos demonstrou que era hora de parar!
Não, não podemos parar! Não podemos desistir! Não podemos nos intimidar com essa atitude vergonhosa do governo, que tenta enfraquecer as manifestações populares, atribuindo-lhes a responsabilidade pelas violências cometidas, o que ainda vem sendo reforçado pelos grupos de bandidos oportunistas que se valem do movimento para saquearem lojas e causarem desordens!
É preciso continuar, mas de outro modo! Vamos mostrar para essa corja toda quem é que destrói a cidade e causa terror! Nas próximas manifestações, vamos sentar!!! Isso mesmo, sentados, quietos, em silêncio, imóveis. Em vez de agendarmos o ponto de encontro em um local e caminharmos até outro, façamos assim: marcamos o ponto de encontro no local de destino e sentamos! Pronto! Quietinhos, silenciosos e em paz!
Um milhão de pessoas sentadas nas ruas param o Brasil! Um milhão de pessoas sentadas não destroem patrimônio, nem agridem pessoas! Um milhão de pessoas sentadas não camuflam quem destrói patrimônio, nem quem agride pessoas! Um milhão de pessoas sentadas permitem que as câmeras vejam quem realmente está destruindo tudo ao redor! Um milhão de pessoas sentadas, ocupam no mínimo um espaço de duas milhões de pessoas de pé! Não será isto o suficiente para chamarmos atenção sobre nós?
Com a mídia do mundo inteiro apontada para o Brasil, com a pressão que a FIFA vem exercendo sobre o país, ameaçando cancelar a Copa das Confederações se não forem tomadas medidas drásticas de segurança, eu acredito que as forças policiais serão mais cautelosas antes de iniciarem um ataque em pessoas sentadas e em silêncio. Faltar-lhes-ia desculpas suficientes para justificarem o uso de bombas de efeitos moral e balas de borracha em uma população de fato pacífica. Impediria também que oportunistas se aproveitassem das condições para transformar em pândega uma luta que é do Povo!
O momento é de continuarmos! Sentados, sim. Sem, no entanto,
perdermos a altivez. Sem jamais perdermos a razão.