terça-feira, 18 de junho de 2013

Verás que um filho teu não foge à luta

Texto com adaptações e acréscimos, originalmente escrito em 17 de junho de 2013, no caminho de volta para casa, imediatamente depois de participar das manifestações populares que tomaram conta do Centro do Rio de Janeiro.

Percorri dois nichos da manifestação popular que se instaurou no Rio de Janeiro nesta noite. E no balanço do que pude ver, a área ao redor da Assembleia Legislativa demonstra a selvageria, não dos manifestantes – acepção usada para definir os representantes da indignação popular legitimados para agirem em nome do povo – mas, de arruaceiros oportunistas que vampirizaram o movimento para causar destruição e praticar atos de vandalismo.

O cenário ao redor da ALERJ é de guerra. Igrejas históricas depredadas, muros pichados, vidraças quebradas, carros destruídos, bancos saqueados... É vergonhoso testemunhar a ação destes parasitas sociais que, em nome de uma suposta indignação, causam tumultos injustificados e ensejam uma atitude controladora da Polícia. Por momentos, senti vergonha de estar ali, perguntando-me se eu estava mesmo sendo representado por aquelas pessoas.

Felizmente, vi que, mesmo neste cenário, o número de manifestantes é imensamente maior que o de vândalos. Tive tempo de ver um idiota sacando uma lata de spray para pichar a Igreja de São José, mas tive tempo de me emocionar também com os revoltosos sérios e justos gritando indignados: "Não faça isto! Quer que percamos a razão?", enquanto o retiravam à força. Então, novamente me lembrei o que eu estava fazendo ali e me senti representado.

Se nas redondezas da ALERJ o clima era tenso e desolador, o mesmo não pude dizer do que vi na Cinelândia.

Vi jovens em uníssono clamando por justiça social, harmonizando-se entre si. Um imenso mar de pessoas. E vi mesmo pessoas, humanos, como há muito tempo deixara de ver no Homo sapiens.

Vi e ouvi a execução do Hino Nacional e, pela primeira vez em muitos anos, senti que aquilo fazia sentido. "Verás que um filho teu não foge à luta" não me soou, naquele momento, algo fantasioso, fictício e distante da minha realidade.

Hoje testemunhei – e agradeci por poder ter estado lá – o Povo. Não o bicho que agoniza, mas o gigante que acorda. Não vi uma coletividade de indivíduos. Vi um organismo unitário e coeso.

E não pude caber em mim de contentamento.

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