quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Último Discurso

O Último Discurso - Charlie Chaplin
(O Grande Ditador)

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador.
Não é esse o meu ofício.
Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja.

Gostaria de ajudar - se possível - judeus, gentios...negros...brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo
não para o seu infortúnio.
Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos.

A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza,
porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma do homem...
Levantou no mundo as muralhas do ódio...
E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas duas virtudes, a vida será de violência
e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais.
A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente
à bondade do homem...
Um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós.
Neste mesmo instante a minha voz chega
a milhões de pessoas pelo mundo afora...
Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas...
Vítimas de um sistema que tortura seres humanos
e encarcera inocentes.
Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!"
A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que
o produto da cobiça em agonia...
Da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão,
Os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.
E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais...
que vos desprezam... que vos escravizam...
Que arregimentam as vossas vidas...
que ditam os vossos atos, as vossas idéias
e os vossos sentimentos!
Que vos fazem marchar no mesmo passo,
que vos submetem a uma alimentação regrada,
Que vos tratam como um gado humano e
que vos utilizam como carne para canhão!

Não sois máquina! Homens é que sois!
E com o amor da humanidade em vossas almas!
Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar...
os que não se fazem amar e os inumanos.

Soldados! Não batalheis pela escravidão!
Lutai pela liberdade!
No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que
o Reino de Deus está dentro do homem -
Não de um só homem ou um grupo de homens,
mas dos homens todos!

Estás em vós!
Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas.
O poder de criar felicidade!
Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela...
de fazê-la uma aventura maravilhosa.

Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder,
unamo-nos todos nós.
Lutemos por um mundo novo...
Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho,
que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder.
Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem.
Jamais o cumprirão!
Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo.

Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais,
dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo
em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.

Hannah, estás me ouvindo?
Onde te encontres, levanta os olhos!
Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam!
Estamos saindo da treva para a luz!
Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor,
Em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade.

Ergues os olhos, Hannah!
A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar.
Voa para o arco-íris, para a luz da esperança.

Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
(1940)

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