quinta-feira, 22 de abril de 2010

À instabilidade das cousas no mundo

(originalmente publicado em)
Itabuna, domingo, 11 de julho de 2004

Estou de saco cheio! Não suporto mais ter minha palavra questionada e ser interpretado como um cínico e mentiroso! Nunca escondi que fui tudo isso há alguns anos atrás e acredito sinceramente que já cumpri minha pena! Se eu tiver que ser condenado pelo mesmo crime duas vezes, melhor será fugir! E farei isso! Às pessoas cujas opiniões realmente interessam eu tento convencer, mas se elas não estiverem dispostas a acreditarem em mim, não há mais nada que eu possa fazer! Não sou um sábio, não tenho explicações para todos os fenômenos que acontecem e acho que não tenho que me desdobrar em provas da minha sinceridade com ninguém! Quem quiser me acusar que prove suas alegações! Quem achar que sou um crápula, apresente fatos concretos que provem isso, e não se baseiem apenas em suposições e indícios! Como estudante de Direito eu sei que o ônus da prova cabe a quem alega! Não serei eu quem vai se desdobrar para comprovar minha própria inocência! Estou muito cansado de ser mal interpretado! E quero que tudo vá às favas! Quem quiser acreditar em mim, acredite, quem não quiser, que se dane! Foda-se o mundo! Não tentarei mais convencer ninguém!
Estou cansado de estar sempre na linha de fogo do acaso! Ao inferno quem tentar me convencer que Deus faz o que quer e que o acaso não existe! Existe sim, e todos os dias, age sorrateiramente, problema o nosso se estamos na linha de sua caminhada! Eu saio da minha casa para comprar um pão e no meio de um tiroteio uma bala perdida me acerta... De quem é a culpa? Minha? Eu sou o culpado de fazer algo de boa-fé e ser atingido por acaso? O que é isso? Manifestação divina? Que diabo de Deus é esse que permite que seus filhos sejam vítimas de situações as quais não podem prever? É por isso que concordo com Nietzsche: Deus está morto! Tenho muito medo e sinto-me impotente contra algo tão forte quanto o acaso! As coisas caminham, seguem seu rumo, independentemente de qualquer manifestação volitiva de nossa parte. Isso quer dizer que não adianta lutarmos, no dia em que tivermos que sucumbir, sucumbiremos, e acabou? Onde está a justiça nesse mundo? Onde está a justiça em tudo o que fazemos? Continuo seguindo sem encontrar a resposta, e assim o farei, até o dia em que o acaso der um passo muito largo, e pisar sobre mim, esmagando-me de uma vez por todas! Afinal, cedo ou tarde isso irá acontecer...

À instabilidade das cousas no mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Mattos

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