segunda-feira, 11 de maio de 2020

O capitalismo é tão natural quanto andar mascarado

Daqui a cem anos, mostrar a boca, o nariz e o queixo será um tabu. Como já fazemos com os órgãos sexuais. Talvez até desenvolvam desejos sexuais relacionados à exibição de boca, bigode, dentes... Gerações de filhos de pais mascarados crescerão acreditando ser natural usar máscara no rosto. A peça já tem suas versões decoradas, estampadas, com brilho, em couro, etc... Isso nos mostra uma insistência em nos adaptarmos às condições impostas meio, de tal forma que toda a cultura produzida em razão deste meio passa a ser vista como uma tendência natural, como uma "natureza humana".

Gerações futuras de moralistas mascarados dirão que, pelo bem da família, homens e mulheres não poderão tirar a máscara em público. Não será mais uma questão de saúde. Será uma questão moral. A pornografia mais vulgar será aquela em que homens e mulheres mostram todo o rosto. E sorriem quando o fazem! Conservadores dirão que se Deus quisesse que não usássemos máscaras, não nos teria dado a capacidade para criá-las... Nós, que vimos a inserção da máscara no nosso cotidiano, sabemos que não há nada de natural nisso. Nós sabemos que a sociedade está se reformando ao incluir a máscara como item obrigatório de vestuário.

Nós sabemos que a natureza não nos fez mascarados e que, se as máscaras, daqui a cem anos, serão naturalizadas por sua inserção na cultura humana, isso terá ocorrido porque houve um condicionamento da sociedade para incluí-la e para aceitá-la. Nós, já velhos, saberemos que a vida era possível sem máscara. Os nossos bisnetos e tataranetos talvez não acreditem nisso. O mesmo acontece com o capitalismo. Nossa geração pensa ser impossível viver em outra realidade. Pensamos que o capitalismo é um modo natural da vida humana e que não é possível nos desfazermos dele. Da mesma forma que as gerações dos próximos cem, duzentos, trezentos anos, pensarão ser impossível se desfazer das máscaras.

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