segunda-feira, 11 de maio de 2020

Antibolsonarismo é uma questão de princípios

"Ain, migo, é meu tio... É uma amiga... Não vou me indispor, né? A gente sempre se deu bem no passado. Não vou deixar a política criar estresse na relação."

Em nome de um passado, estamos nos sujeitando a não termos futuro. Tenho aqui no meu perfil, como contatos adicionados – não mais como amigos – parentes consanguíneos e gente que foi parente por afinidade e que, já que não existe mais afinidade, não há mais relação de parentesco.

Um tio bolsonarista fez o favor de morrer antes das eleições e não lamento. Espero que os outros que, infelizmente ficaram vivos para serem comparsas de quem elegeu esse criminoso, sigam o mesmo caminho. Ou mudem. Não tenho motivo nenhum para guardar com carinho um passado de quem não me enxerga no seu futuro...

"Por que não deleta esses parentes, Guto?"

Porque quero que eles me leiam. Quero que eles pensem no que andam fazendo. Porque não mudamos a realidade do mundo falando somente com nossa bolha ideológica. E se, hoje, não tenho qualquer vontade de coexistir com essa gente, desejo que um dia acordem para a realidade e apoiem a mesma luta que eu apoio, da inclusão e da igualdade de oportunidades. Se um dia isso acontecer, é possível que eu desenvolva alguma admiração de quem revistou o próprio ponto de vista, assumiu um erro de postura e se dispôs a mudar, com humildade para dizer "eu errei".

Eu errei! Eu já vivi numa bolha de privilégio de quem é homem cisgênero, branco, filho de classe média, e achava que movimento social era mimimi. Que militância era bagunça. Não tenho vergonha nenhuma de assumir o tanto de bobagem que pensei e falei. Embora me envergonhe desse passado em que eu dizia que "tudo bem ser gay, mas não precisa dar pinta" ou "bandido bom é bandido morto" ou "mulher já vota, já trabalha fora, o que mais ela quer?" eu aprendi a me apropriar da minha história sem renegá-la, para transformá-la.

E é por saber que eu mudei que eu acredito que outros também podem.

Mas, não, não somos mais amigos. Não me esperem no almoço de domingo ou na ceia de natal (detesto natal, inclusive). Não contem comigo para nada. Para nada! Não esperem qualquer manifestação de carinho ou palavra de conforto que não seja, somente no caso de uma mudança de posicionamento político, "bem-vindx à minha luta". Caso não aconteça, permanecemos inimigos.

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