terça-feira, 31 de março de 2020

Reificação e Abstrações em Pronunciamento Nacional

Res, palavra latina para designar "coisa", da qual se originaram várias expressões em português, como "rês", que significa cabeça de gado, "reivindicar", formada pelos radiciais "res" (coisa) e "vindicare" (vindicar, reclamar pra si); e "reificar", que significa "tornar coisa" ou "transformar em coisa".

O processo de reificação da pessoa atende aos interesses do capitalismo, quando trata o ser humano somente como coisa necessária à manutenção da cadeia de produção. É o processo pelo qual o ser humano passa a ser tratado como uma coisa, uma peça de uma engrenagem, facilmente substituível para manter todo o sistema funcionando.

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, transmitido hoje em rede nacional, mais uma vez, visa a levar a desinformação às pessoas, reforçando seu discurso reificador. Em sua fala de aproximadamente sete minutos, utilizou trechos do pronunciamento de ontem do diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, no qual este teria fomentado o fim do isolamento social, orientando o retorno da população às atividade comerciais, a fim de manter a economia em funcionamento.

Não nos enganemos com o tom supostamente conciliador e moderado do Presidente, haja vista que, deliberadamente omitiu outro trecho da fala de Tedors Adhanom, retirando do contexto o excerto utilizado em seu pronunciamento, pelo qual o Diretor da OMS cobra a responsabilidade dos Estado pela assistência a ser prestada às pessoas mais vulneráveis, que terão sua movimentação restrita pelas medidas de contenção da pandemia.

Jair Bolsonaro segue coisificando o ser humano ao estabelecer que a cadeia produtiva não pode parar. A reificação na fala do presidente não deveria ser surpresa paa ninguém, considerando-se seu histórico de quem já mediu peso de pessoas negras em arrobas, medida utilizada para gado (ou rês).

O Presidente que falou em campanha que mulheres são frutos de uma fraquejada e que índios não ganharão um centímetro a mais de terras, comparando-os a animais em zoológico, há muto tempo adotou a reificação em suas falas públicas, como quando deu de ombros diante da possibilidade da morte de idosos pelo Covid-19, atestando com indiferença que seria apenas um mal necessário. Velhos não produzem. Velhos não são força de trabalho. Velhos são apenas despesas para o Estado, obrigado a lhes prestar assistência social mediante benefícios como aposentadoria, criando rombo em uma previdência já supostamente quebrada.

Puxou a sardinha para o Planalto ao dizer que garantiu benefício de R$ 600,00, o que só foi possível por causa da oposição no Congresso. Um pronunciamento irresponsável disfarçado de sensatez para dar um "calaboca" em quem lhe faz oposição e fiscaliza dia atuação. Mas, seguimos atentos e captando a falha do seu discurso. A fala dele segue cheia de expressões abertas. "Tomaremos todas as providências", "é preciso nos unirmos para adotarmos medidas", "precisamos garantir o emprego"... COMO, CARALHO? Isso ele não fala.

Jair Bolsonaro segue mentindo em cadeia nacional ao ocultar deliberadamente a fala do Diretor da OMS que cobra medidas dos países para combaterem a situação de vulnerabilidade de trabalhadores informais. Sua irresponsabilidade e crueldade permanecem em seu discurso quando diz que "temos que pensar nos mais vulneráveis" e transfere a esses mesmos os ônus decorrentes de suas condições econômicas, insistindo em falar de forma abstrata que "devemos nos esforçar para preservar empregos", finalizando que "os efeitos colaterais das medidas de combate ao coronavírus não podem ser piores que a própria doença", sem, no entanto apresentar qualquer medida efetiva e concreta de valorização à vida.

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