quarta-feira, 25 de março de 2020

Jair Bolsonaro, Necropolítica e Coronavírus

Jair Bolsonaro na TV falando a milhões de brasileiros que o país precisa voltar à normalidade. Talvez seja a primeira vez na vida em que eu concorde com esse animal em alguma coisa.

O Brasil precisa voltar à normalidade, sim, Sr. Presidente. O Brasil quer voltar ao tempo em que não era governado por fascistas genocidas, que pretendem usar o coronavírus como arma para acabar com os aposentados desse país. O Brasil quer voltar ao tempo em que o mais pobre tinha comida no prato e o filho da empregada cursava ensino superior. O Brasil quer voltar o ao tempo em que um homem sem senso de coletividade e completamente irresponsável não tivesse sido eleito depois de burlar o sistema eleitoral com promessas de cargos vitalícios a juízes de primeira instância.

Jair Bolsonaro, ao determinar que o povo volte às ruas, contrariando o protocolo da Organização Mundial de Saúde, pratica o crime previsto no artigo 132 do Código Penal, qualificado pelo seu parágrafo único, que é expor a vida ou a saúde de pessoas a perigo direto ou iminente. É uma demonstração clara do seu descontrole ir de encontro às orientações de todos os líderes mundiais, todas as autoridades médicas mundiais, incluindo a própria OMS, e até mesmo as orientações do seu próprio corpo técnico, chefiado pelo Ministro da Saúde, Mandetta.

Bolsonaro padece de uma certeza infantilóide de quem acha que o mundo inteiro está errado e apenas sua opinião é correta. Sua visão limitada de mundo, que transmitiu aos seus filhos de mente tão fechada quanto sua própria, não lhe permite ver pelo olhar do outro.

Se por um lado isso o impede de compreender conhecimentos além dos que supõe possuir, por outro tira de si a capacidade de se importar. Não se importa com a opinião alheia, como não se importa com a própria existência alheia.

Bolsonaro aderiu à necropolítica e está se valendo de uma pandemia para manifestar novamente seu ódio de classes, quando assume que a normalidade deve ser a circulação de pessoas que não compõem grupos de riscos. Em sua visão estreita de mundo, não consegue vislumbrar que, independentemente de fazerem ou não parte dos grupos de risco, pessoas circulando nas ruas levam o vírus para dentro de casa, onde estarão recolhidos os mais ameaçados. Bolsonaro simplesmente não se importa.

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