segunda-feira, 16 de março de 2020

Coronavirus e prateleiras vazias


No modelo econômico capitalista, a produção agrícola, como tudo o mais, visa a garantir o lucro do produtor. Quando há uma grande procura, como nas greves dos caminhoneiros ou períodos de histeria coletiva como este atual da pandemia do coronavírus, pessoas que podem pagar mais nos supermercados têm a vantagem de poderem estocar alimentos em casa. A você, pobre, fodido, resta a escassez das prateleiras vazias ou se virar para pagar o triplo... o quádruplo... dez vezes o preço.

Nós, classe média assalariada, nos queixamos, corremos para as filas dos mercados, concorremos com nosso vizinho por um saco de feijão. Viramos animal na selva, faminto, brigando pela caça com nosso semelhante. Queremos apenas estocar comida na nossa despensa. Azar de quem não pode.

Mas, Guto, e o que o capitalismo tem a ver com isso? Sabe a divisão do trabalho? Aquela coisinha que cria etapas e faz de você um profundo conhecedor de como parafusar uma chapa de metal, mas incapaz de entender como ligar um fio e gerar eletricidade? Pois é. A divisão do trabalho acelera a produção e enriquece o proprietário dos meios de produção. Você sabe plantar. Seu vizinho sabe adubar. Eu sei colher. Meu vizinho sabe transportar. O primo dele sabe vender. Se faltar alguém nessa cadeia produtiva, todo o ciclo se rompe e fica todo mundo na merda. O capitalismo quer isso. Porque ao usurpador da sua força de trabalho, tecnicamente conhecido como proprietário dos meios de produção, interessa o lucro. Não importa como! A produção precisa ser rápida para atender, não aos anseios da sociedade, mas aos interesses de quem pode pagar e consumir. É uma matemática simples: o produto produz, disponibiliza no mercado, quem pode pagar paga, quem não pode, fica sem. Tem produto sobrando? O preço cai. Tem produto faltando? O preço aumenta. O lucro do produtor? Este não se altera. Ainda quem nem todo mundo compre.

Para o proprietário dos meios de produção, leia-se, O PATRÃO, não importa se a comunidade estará alimentada ou se apenas um pequeno grupo estará alimentado. Já falei, mas não custa repetir. Repita comigo você também até memorizar: o interesse do patrão não é assegurar o bem-estar da sociedade. É garantir o próprio lucro. Frase para tatuar no cóccix. "Faltou comida para todos? Não faz mal, quintuplica o preço para garantir meu lucro. Quem não puder pagar que se dane!" Isso é capitalismo.

Se há uma coisa que estou amando nessa pandemia do coronavírus, é que ela está revelando a você, cidadão médio, cidadã média, seja por ignorância, seja por seu pouco interesse em combater as mazelas da sociedade, as falhas do capitalismo e do seu modo de produção pouco preocupado em prover o bem estar da coletividade, mas bastante interessado em dar lucro para o agronegócio. E claro, para o produtor do álcool em gel.

Agro é pop? Agro é tech? A-hã, vai vendo... Quando você pensar em demonizar o comunismo sem nem saber do que se trata, pense que o capitalismo quer produzir para enriquecer o patrão, enquanto o comunismo quer produzir para atender às necessidades de consumo da sociedade. Em vez de lamentar a falta de tomate e batata no mercado, você, que na cadeia de produção sabe alimentar planilha de Excel, mas não faz ideia de como se planta uma beterraba, pense no prejuízo que a divisão de trabalho no capitalismo causa a quem sofre os efeitos da escassez de alimentos. Ontem você podia comprar álcool em gel. Hoje, só poderá se tiver como pagar três vezes mais. Amanhã? Não sabemos! Teremos álcool em gel nas prateleiras?

Ah, Guto! Agora é impossível! Agora eu dependo da cenoura e do pimentão do mercado para me alimentar. Eu sei, também dependo. Como dependo da indústria farmacêutica que produz o álcool gel cada vez mais caro por estar cada vez menos fácil de se encontrar por aí. E exatamente por isso, eu sei a merda que é depender do interesse no lucro do produtor para que eu possa me alimentar. Para que eu possa me vestir. Para que eu possa trabalhar. E é exatamente por isso que eu sou comunista. Se eu fosse você, começaria agora mesmo a estudar como fazer uma horta caseira. E como fazer uma roupa caseira. E como fazer chazinho para aliviar sintomas e doenças.

Com a iminente crise na produção causada pelas pessoas em casa em decorrência do vírus, logo, logo tudo isso vai faltar. Ou vai encarecer muito! E adivinha quem não vai sair lucrando com isso. Exatamente: você!

Ah, e só para lembrar: desincentivar a pesquisa nas universidades públicas também desincentiva a busca pela cura de doenças novas que aparecem e se espalham. Alô, bolsominions, aquele abraço!

Não há de quê. Beijo marxista no seu coração!

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