(Originalmente postado no meu Facebook, em 22.11.2017)
Faço parte de uns
grupos no Facebook, com diferentes temáticas, como poliamor, combate à
homofobia, empoderamento de minorias, combate ao machismo, etc. Vez ou outra,
nestes grupos, surgem brincadeirinhas fora da discussão, no intuito de fomentar
a interatividade entre os membros, tipo "comenta sua idade, e quem curtir
tem interesse em você", "fale sobre seu signo, quem tiver interesse
comenta no seu comentário", "beija o de cima ou arrisca no
próximo?" E outras coisinhas bobas do tipo. Muitas das quais, visando à
formação de casais ou de amigos dentro dos grupos.
Não critico as
brincadeiras. Até gosto, acho divertido promover a harmonia dos membros,
inclusive dando uma ajudinha para o cupido de plantão. No entanto, tenho percebido que este tipo de
postagem incentivando a interatividade entre a galera não tem sido muito
frutífera. Porque tem faltado exatamente uma interação efetiva.
É divertidinho
comentar que está solteiro e aguardar pessoas dizendo "então me
pega", ou postar um retrato e falar sobre os próprios atributos pessoais,
como em aplicativos de pegação, aguardando que candidatos à vaga num coração
vazio apareçam. Mas, a impressão que tenho tido é a de que somos todos uma
geração permanentemente carente, um monte de pessoas solitárias, que se queixam
por estarem sós, mas que não se propõem a olhar para o lado.
O que sempre vejo é
que a maioria das pessoas posta seu próprio comentário, vendendo seu peixe no
mercado, mas não se dá o trabalho de olhar, curtir, comentar o post do outro.
Como se todos se queixassem por estarem sozinhos, mas ninguém tomasse uma iniciativa
efetiva para interagir com o outro. É meio assustador ver tanta gente se
queixando por ser sozinha, por querer um namorado ou namorada, uma embaixo da
outra, mas ninguém comentando no post um do outro, como se nem ao menos tivesse
lido o que já havia sido postado antes do seu próprio comentário.
É como se o mundo
girasse em torno apenas do nosso próprio umbigo, fazendo apenas com que
aguardemos a curtida do outro, o comentário do outro, o elogio do outro, mas
nós mesmos não nos esforçamos para curtir o outro, comentar o outro. Apenas
aguardamos. Aguardamos a curtida, aguardamos o elogio, aguardamos o comentário.
E assim, cresce o número de pessoas solitárias, enquanto mensagens, fotos e
autopropagandas se perdem em meio à sobrecarga de comentários seguintes.
A música Esperando
Por Mim, da Legião Urbana tem uma frase muito condizente com esta realidade:
"Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso
em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição."
É estranho que, com
tanta gente sozinha, querendo um "mozão", todas reunidas num mesmo
ambiente, nenhum par se forme. Cadê aquela iniciativa do "se organizar
direitinho, todo mundo transa"? Vale também para o amor: "se
organizar direitinho, todo mundo ama". Urge que se busquem uns aos outros,
em vez apenas de esperar que o outro o
faça.
Circula pela
Internet um texto, desses chatos, de reflexão e autoajuda, que descreve o
Inferno como uma grande mesa com um banquete, à qual, segurando talheres de
cabos imensos, sentam-se os comensais, todos famintos, pois não conseguem virar
os talheres em direção à própria boca, tendo em vista o comprimento de cada
talher. E descreve o Paraíso como a mesma mesa, com o mesmo banquete e os
mesmos talheres, mas os comensais, em vez de pensarem somente em si e passarem
fome, alimentam uns aos outros.
Vejo que a analogia
também funciona para a situação dos grupos. A solidão às vezes me parece como
o Inferno do conto, no qual cada um olha tanto para o próprio umbigo, que se
perde em si mesmo, sem conseguir ver o outro ao seu lado.
Se olhassem todos ao
redor, cada qual estaria menos sozinho. Vivemos a cultura da solidão, revelada
na recusa a dar atenção com quem puxa papo conosco na fila do mercado, ou na
cara feia que fazemos quando alguém ocupa o assento ao nosso lado no ônibus. E
seguimos permanentemente reclamando dos dias vazios, da ausência de amigos, de
amores, de emoções.
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