terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Diga Não ao Golpe

Tenho notado por parte da imprensa, por parte das pessoas nas redes sociais, nas conversas de mesas de bar e grupos de WhatsApp um certo fomento à ideia de que o General Mourão estaria seguindo os passos do seu antecessor Michel Temer, arquitetando um golpe contra o presidente fascista Jair Bolsonaro.

A impressão que tenho é a de que a própria imprensa vem insistindo no fato de que o presidente não poderia governar hospitalizado e que a administração do país deveria ser instituída ao vice-presidente, Mourão.

Vejo alguns conhecidos endossando o discurso de que um golpe perpetrado pelo General seria bem-vindo, pois acabaria com os desmandos de um governante autoritário e incompetente que ocupa a presidência da república. E o coro aumentou depois que o General Mourão passou a fazer declarações de tom mais moderado e progressista, alinhado a pautas de alguns movimentos sociais, como ao mencionar o aborto como um direito exclusivo das mulheres.

É neste momento que entro num conflito intenso comigo mesmo, quando penso no sonho de um Brasil não governado pelo presidente das armas, Jair Bolsonaro, e na felicidade que me daria vê-lo vítima de um golpe deflagrado por seus aliados. Conflito porque não fico nada, absolutamente nada confortável com a ideia de um golpe apoiado pela mídia, que me parece fazer questão de reforçar a ideia de que o presidente eleito (ainda que sob a influência das fake news) não se encontra apto a governar em razão do seu estado de saúde.

Concordo que o presidente não tem aptidão alguma para governar, mas não é pelo seu estado de saúde. O Brasil já assistiu às reviravoltas decorrentes dos dois pesos e duas medidas no uso conveniente da saúde do Bolsonaro que, quando lhe convinha, era pretexto para se abster de debates e entrevistas, como a gafe que cometeu em Davos, ao dar um bolo na entrevista coletiva depois do seu malfadado discurso de seis minutos, mas não impunha quaisquer óbices à sua aparição na TV aberta, no famigerado canal conservador e evangélico. O presidente não tem aptidão para governar por ser fraco, covarde, néscio, estúpido até, nada preocupado com o bem estar dos governados, mas disposto a sempre dar um jeitinho para beneficiar seus parentes e amigos, valendo-se da máquina pública para tanto.

No entanto, por mais que eu deseje ver a presidência da república do meu país nas mãos de alguém competente e com o Bolsonaro fora, eu não simpatizo com a ideia de que um golpe do seu vice Mourão seja benéfico.

Recentemente, vi pelo Facebook um meme que comparava as últimas declarações do general ao discurso do esquerdo-macho heterossexual oportunista e desconstruído de fachada que, para se aproximar das mulheres, finge estar alinhado às pautas feministas: "Miga, acorda! Ele só quer te comer!" É exatamente o que penso sobre o General Hamilton Mourão. Usa um discurso envolvente para devorar a esquerda, engolindo-a no primeiro momento que lhe for possível.

Durante a campanha eleitoral, tive oportunidade de ouvir o atual vice-presidente em algumas entrevistas. Extremamente bem articulado, chamava atenção pela postura elegante em suas colocações e pelo tom de voz modulado, de maneira comedida, com que exprimia argumentos bem fundamentados e defendia seu ponto de vista. Mostrava-se anos-luz mais informado e culto que o atual presidente e eu quase poderia simpatizar com ele. 

Quase. Não fossem alguns conhecimentos prévios acerca do posicionamento político do militar. Assim como Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão é simpatizante à ditadura militar e tem como herói o Coronel Ustra, torturador notável do DOPS. Só isto já elimina qualquer possibilidade de simpatia que eu eventualmente tenha cogitado em ter para com ele.

Em 2017, defendeu que o exército deveria impor o afastamento de pessoas envolvidas em ilícitos, caso o judiciário não o fizesse, o que não apenas invade a esfera de competência do poder judiciário, como ainda extrapola a função das forças armadas.

Em seu discurso linha dura, Mourão já declarou ser contrário ao ativismo LGBT. De acordo com o entendimento raso e equivocado de alguém que notoriamente almeja retirar a credibilidade e a importância de um movimento social, a militância em prol de direitos equiparados entre gays e héteros pretende impor a homossexualidade como um padrão à sociedade, o que não é verdade!

Em 1964, quando João Goulart ainda se encontrava em solo brasileiro, seus rivais, apoiados pelo exército, declararam sua ausência do país e a consequente vacância do cargo de presidente. O resultado disso, todos conhecemos. O Brasil viveu 21 anos sob o domínio militar e sufocou a democracia, que somente seria instaurada em 1988, com o advento da Constituição Federal atualmente vigente. Quando vejo um esforço grandioso da imprensa em declarações como a de que o presidente não está apto ao governo e deve deixar o vice assumir interinamente o cargo, não consigo deixar de associar isto ao apoio que a mesma imprensa deu ao golpe de 1964. E a impressão que tenho é a de que, a qualquer pretexto, a mídia irá declarar a vacância para que, com o apoio popular da esquerda seduzida pelo seu discurso progressista, o General Mourão usurpe o cargo e assuma a presidência da república. Não, eu não apoio.

Não, também não significa que eu esteja satisfeito com alguém como Jair Bolsonaro nos governe. Se estamos dispostos a fazer barulho e questionar a legitimidade da chapa eleita, continuemos a brigar pelas investigações da influência das fake news propagadas pelo PSL e eventualmente pela cassação da chapa eleita, com a deposição do Bolsonaro e do Mourão, se confirmado o vício de consentimento decorrente de erro e dolo, hábil a ter alterado os resultados das eleições.

A substitução um fascista por outro que lhe tenha puxado o tapete pode até soar agradável a quem tem o animus de ver um vilão de novela se dar mal no final. No entanto, diferentemente do script da novela, que acaba quando tudo vai bem para os mocinhos e os vilões recebem seu castigo, na vida real um enredo pode se revelar ainda mais assustador que o antecedente. E seu direito de regozijar com a queda de um presidente incompetente pode ser seu último ato dentro de uma democracia, antes que esta seja sepultada.

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