sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Uma maldição chamada WhatsApp.

Uma maldição chamada WhatsApp.

Amores, não é porque eu estou em casa que eu posso receber todos os meus amigos ao mesmo tempo e dar atenção integral a todos. O mesmo vale para aplicativos de mensagens instantâneas. O fato de eu estar online não significa necessariamente que eu esteja disponível para conversar com todo mundo ao mesmo tempo.

Sim, eu visualizo as mensagens, as barrinhas ficam azuis. E eu volto quando dá para voltar. Ou quando eu quero. Muitas vezes estou lendo, estou cozinhando, estou vendo filme... ou estou recebendo visitas, aquela que você também poderia me fazer em vez de cobrar resposta rápida no WhatsApp.

Sim, eu saio do aplicativo sem me despedir e entro sem dar bom dia. Não gosto de introduções do tipo "preciso falar com você". Já está falando, manda a mensagem. Se for urgente, liga. Se não for, aguarda, que eu respondo. O aplicativo para mim é um mero instrumento facilitador de contato. Não um substituto para o olho no olho. Minha vida está acontecendo ao meu redor, à minha frente, ao alcance das minhas mãos. A prioridade é sempre aquilo que está aqui diante de mim.

Então, sim, vou deixar você sem resposta se meus cachorros vierem brincar comigo. Vou deixar você sem resposta se eu tiver de correr para apagar o forno porque o pão estará queimando. Vou deixar você sem resposta se minha campainha tocar. E quando eu tiver um segundo a mais, pode ficar em paz, sua mensagem será respondida. E vou voltar horas mais tarde e continuar o papo de onde parou. Ou, iniciar outro se, para o anterior eu não tiver resposta a acrescentar.

"Mas, é rapidinho, Gu!" Seria rapidinho se a cobrança viesse de uma pessoa apenas. Mas, minha agenda tem mais de 300 contatos, dentre amigos, parentes, contatos profissionais, etc. Pelo menos 20% desses contatos conversam comigo via WhatsApp. Cada um querendo um tempo que é rapidinho,  não me sobrará mais tempo de fazer outra coisa. E se tiver de avisar a cada um que "estou entrando no banho" ou ser educadinho e polido com "bom dia, pode perguntar", "preciso sair agora", nada mais farei senão enviar mensagens protocolares de introdução e despedida.

Assim, se você falar comigo com um "Bom dia, tudo bem?" E fizer algum comentário qualquer a seguir, não se surpreenda, nem se chateie se eu não responder nem ao seu bom dia, nem dizer se estou bem, e partir direto para o assunto que foi abordado.

Bora marcar uma praia, uma pedalada, uma trilha, um passeio no museu. Assim a gente coloca todo o papo em dia e ainda aproveita o prazer da companhia um do outro. E quando fizer isso, pode chamar assim: "tô indo para o CCBB hoje à noite, topa?". Dispense a formalidade e ganhe tempo ao deixar de escrever três ou quatro mensagens protocolares, tipo "Oi, Guto!", "Boa tarde", "Tudo bem?", "Posso te fazer um convite?". Apenas convide. Ou ligue se eu não visualizar ou responder em tempo hábil e a minha companhia for realmente desejada. É assim que eu faço e dá certo.

Passei cerca de três meses afastado das redes sociais e percebi que tornei inexistente para uma galera! Amigos simplesmente sumiram, convites deixaram de ser feitos, e quando alguém esbarrava em mim em algum canto, exclamava em tom de espanto: "Nossa! Você sumiu!" Não, gente, eu estava no mesmo lugar. Você é que estava vivendo demais a vida virtual, onde deixou de me ver, e parou de se preocupar com a vida real, com o telefonema "Gusta, acabei de fazer um bolo de chocolate. Traz uns salgadinhos e vem aqui agora para gente ouvir música e bater um papo, regado a bolo e salgadinhos!"

Quando retornei para o Facebook para divulgar os pães que eu estava vendendo, de repente voltei a ser visto. Recebi tantos "Estava com saudades!", que me perguntei onde se guardava essa saudade, que poderia ter sido resolvida com uma visita de algumas horas. Não, não estavam com saudades de mim. Estavam com saudades de ver um avatar meu seguido por algumas palavras ácidas, que a gente chama "postagem", e que minutos depois se perderiam em meio a uma enxurrada de outras postagens.

E é com este compromisso acirrado ao mundo virtual que me cobram presença e respostas via WhatsApp quando eu estou muitas vezes vivendo a minha vida do lado de fora do celular.

Para os desavisados, posso estar soando como um velho anacrônico, reclamando do avanço da tecnologia, preso ao passado com o pensamento "na minha época era melhor". Não, não é disso que se trata. É o oposto! Eu entendo que os tempos são outros, entendo que a comunicação avançou com a conectividade permanente, entendo que a agilidade das relações virtuais muitas vezes se torna mais atraente que o contato pessoal. Entendo tudo isso! E é justamente por isso que escrevo este texto. Porque os tempos são outros, pessoal! Para que trazer formalidades que faziam sentido na comunicação de outrora para outro tipo de comunicação que é mais veloz?

- Guto?
- Oi.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Como vc está?
- Tô bem e vc?
- Tô bem também. Posso fazer uma pergunta?
- Faz, claro!
- Tem certeza?
(Porraaannnn...)
- Claro, fala logo!
- Não vai atrapalhar, não? Se estiver ocupado, falo outra hora.
(Ah, caralho, fala logo, cacete!)

Olha o tempo que as pessoas perdem e nos fazem perder, quando já podiam começar assim:

- Oi, Gu. Ganhei um par de ingressos para o cinema num sorteio. Ta a fim de ir comigo? Hoje às 21h.
- Opa! Tô sim! Vamos!

The fim!

É isso, galera. Não é preciso ser rude e grosseiro, mas dá pra ser educado sem ser enrolado no WhatsApp. Os tempos são outros. Mas, mesmo assim, existe uma realidade acontecendo ao meu lado enquanto o app está me chamando. Não espere de mim que eu sempre esteja disponível para papear no WhatsApp. Ainda que eu esteja online.

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