quinta-feira, 22 de março de 2012

MDNA, um acerto depois de uma série de erros

Nunca fui fã de música pop, quem me conhece sabe bem. Menos ainda da Madonna, cuja figura me incomoda muito com sua notória antipatia e ausência de carisma, além de uma marcante falta de voz. Mas, isentando-me de minhas preferências pessoais, sempre a admirei como artista, por sua constante capacidade de se renovar. E dentre tantas obras de gosto duvidoso que ela já produziu, consigo tirar coisas muito boas, como os álbuns "Ray of Light", "American Life", “Erotica” e "Bedtime Stories". Mesmo porque nem só de timbre e alcance vocal é feita a boa música. Que o digam as adoráveis gravações de Maria Bethânia e de Nara Leão.

Com uma obsessão meio estranha por uma artista de quem nunca me considerei um admirador, tento acompanhar cada novidade que a Madonna lança. Em primeiro lugar para ir contra meu próprio preconceito sedimentado de que música pop é sinônimo de lixo. Gosto de me surpreender e mesmo de me contrariar. Já dizia Raulzito, "prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Em segundo lugar, para descobrir qual foi ideia original que ela trouxe. E neste último aspecto, confesso, tenho andado bastante decepcionado.

Desde o álbum "Music", um dos piores de sua carreira, que só se salva por ter incluído uma versão bem razoável, ainda que incompleta, de "American Pie", obra prima de Don McLean, e a qual, aliás, a própria Madonna não aprecia, seus trabalhos vem se repetindo à exaustão! São aproximadamente 15 anos utilizando-se reiteradamente a mesma fórmula! Quem quebrou um pouquinho o marasmo e ausência de criatividade foi o disco "American Life" que, apesar de abraçar o eletrônico, deixou um pouco de lado a atmosfera dançante. Depois, seguiram-se os monocórdicos "Confessions on a Dance Floor" e "Hard Candy" que não revelaram bem a diferença da “Rainha do Pop” em relação a tantas outras fotocópias do pop-dance, como Lady Gaga, Beyoncé, Britney Spears, a ponto de justificar seu título de nobreza.

É aí que me surpreendeu ouvir MDNA, o álbum novo, cujo lançamento oficial está previsto para o próximo dia 26 de março. Continua mais do mesmo, sejamos honestos, sem nenhuma originalidade. No entanto, desta vez o disco trouxe melodias bastante captáveis, daquelas que ficam na cabeça e se podem assoviar.

MDNA começa com duas faixas monótonas, de batida bastante dançante, é fato, mas que não conseguem empolgar, e parece estar fadado ao fiasco quando, imediatamente encontra seu pior momento, na terceira faixa, “I’m Addicted”, extremamente cansativa. Porém, a partir daí, os passos começam a se acertar e a deliciosa “Turn Up The Radio” inicia a parte boa do álbum. Na faixa “Give Me All Your Luvin”, que conta com a participação de Nicki Minaj e M.I.A., o retrô coloca-se em evidência no coral cafoníssimo – e por isto mesmo, muito agradável de se ouvir –, que mais se parece com os gritos de animadoras de torcida. Da mesma forma, “Superstar” e “I Don’t Give A”, que também conta com a participação de Nicki Minaj, não ficam devendo coisa alguma a qualquer sucesso eletrônico dos anos 80, acrescentando-se ainda como um plus o crescendo final com que esta última faixa se encerra.

As letras vão desde a pieguice adolescente da brega “Superstar” (“Uh-lalá, você é meu superstar (...) Você é meu mafioso, como o meu Al Capone”) até o transcedental de “I’m a Sinner” (“Como o sol, como a luz, como a chama/Tal como a tempestade eu queimo através de tudo (...) Eu sou uma pecadora, eu gosto de ser assim”), não sem passear pelo lado sexualmente apelativo que não poderia deixar de aparecer em um trabalho da Madonna (“É tão erótico/Esse sentimento não pode ser vencido/Está passeando por todo meu corpo/ Sinta o calor”). O fato é que, independentemente da temática cantada, é impossível não sentir vontade de cair em uma pista de dança ao som de MDNA. A batida acelera e reduz na medida exata, abrindo todas as possibilidades que uma boite pode oferecer, desde a pura e simples diversão descontraída até a sensualidade de corpos suados em movimento hipnótico.

O álbum encontra seus momentos mais calmos nas faixas “Masterpiece” e “I Fucked Up”, na qual a artista pede desculpas, reconhecendo que ferrou tudo e errou novamente. Tudo bem, Madonnna, está perdoada. Aqueles que admitem o próprio pecado dão um passo inicial para a salvação. Aliás, ao dizer “Eu cometi um erro/Ninguém faz isso melhor que eu”, Madonna poderia muito bem estar se referindo aos seus últimos trabalhos, mas não a MDNA (Ok, a letra não fala nem de uma coisa nem de outra), que possui músicas que podem mesmo ser qualificadas como belas, coisa quase impossível de se ver neste universo pop de pseudocantoras fabricadas em série. Dou aqui minha mão à palmatória reconhecendo, que, embora nada justifique este fanatismo afetado que as pessoas alimentam por uma cantora mediana como tantas outras, passados os minutos iniciais, o álbum é muito bom e revela-se um perfeito convite para cair na pista.

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