sexta-feira, 17 de março de 2023

O cão e a dor

O cão e a dor

Quando te morde o velho cão
Que de maus tratos sobrevive
Quem te pode julgar se o enxotas
Quando a dor não mais suportas
Da ferida que na tua mão se abre?

Não tem o cão um juízo
Do sangue que de ti faz jorrar
Nas carnes que em ti dilacera.
Não é raiva o mal do cão, tu bem sabes,
Mas, sua defesa do medo da vida.

E quem te pode então julgar,
Se o cão te ti ganha um afago,
Mesmo que em tua mão ainda lateje
O inchaço da tua pele rasgada?

Mas, se tens tu medo também
Do cachorro aproximar-te,
Quem te pode julgar se dele foges,
Ainda que tenhas ciência
De que ao cão o amor faltou?

Segues tu num dilema cruel:
Se carregas para ti o cão,
Dá-lhe abrigo e acolhida,
Ou se dele tomas distância,
Evitando assim a mordida,
Que doerá novamente amanhã.

Gustavo Carneiro de Oliveira

Rio, 17/03/2023.

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