segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Família tradicional não desfaz sozinha

"Ain, tem que ter muita maturidade para ter uma relação aberta".

"Ain, é preciso ter muita confiança!"

"Ain, só dá certo se os envolvidos forem muito honestos um com o outro..."

Miga, te contar um segredo: maturidade, honestidade, confiança, são requisitos pra qualquer tipo de relação, tá? Se a Sra. é desonesta na sua, talvez o problema esteja em você e não na relação.

O relacionamento aberto é a aceitação do próprio desejo e da própria sexualidade, sem limitar o desejo sentido pelo próprio corpo a regras ditadas por terceiros em uma sociedade que se imiscui na esfera privada do que a pessoa faz consigo mesma. O MEU prazer diz respeito só a MIM e não faz sentido que eu o restrinja apenas porque o OUTRO quer que EU não sinta o prazer que o MEU corpo pode ME proporcionar.

A propósito, o formato monogâmico de relacionamento atende aos interesses do capitalismo, em que a burguesia necessita de formação de um núcleo familiar para procriar e produzir mais trabalhadores para as fábricas continuarem produzindo riqueza para o burguês enquanto o proletário se fode. Não a toa, a mesma sociedade que prega contra o relacionamento aberto também impõe a heterossexualidade como padrão. Porque, como diria Levy Fidelix (que o diabo o tenha) "aparelho excretor não reproduz".

O casamento, a heterossexualidade, a monogamia são instrumentos na mão da burguesia para garantir a perpetuação do capitalismo. Não a toa os veículos de mídia — todos pertencentes a detentores de grandes capitais — veiculam sempre em suas produções televisionadas e cinematográficas, além de campanhas publicitárias, o modelo da família "tradicional": porque precisam de pessoas moldadas dentro dessa cultura monogâmica e heterossexual, para que possam perpetuar mesma organização social existente, acreditando ser "natural" que tenhamos um só parceiro.

"Ain, tenho nojo dessas pessoas."

"Isso é fetiche pra pessoa poder ser puta."

"Melhor ser solteiro, isso não é amor"

"É uma aberração!"

O discurso de ódio, pelo visto não tá só no meio dos bolsominions, né?

Cuidado com o preconceito e entenda que sua escolha pela monogamia foi uma escolha direcionada pela cultura na qual você se insere.

Tá de boa com isso e quer seguir monogâmico/a? Beleza, siga e seja feliz. Mas, não caga regra na relação alheia, chamando de fetiche, desculpa, pretexto, putaria, safadeza, ou o caralho a quatro que o seu preconceito diz que é. Porque ser viado também é tabu. E o ódio que você reproduz ao tachar a relação alheia como aberração é o ódio que você recebe quando dizem que sua orientação sexual também é.

Vá ler Engels e deixe sua mentalidade tacanha de lado.

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