quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Bom dia. Uma moeda valiosa.

Bom dia não é dinheiro. Dê sem avareza.

As recepcionistas do prédio onde trabalho são rigorosamente instruídas para nunca, jamais, sob qualquer hipótese, nem mesmo sob tortura, responderem "bom dia" quando cumprimentadas. Acho que é motivo para dispensa por justa causa se o fizerem.

Que a Economia preconiza cortes de gastos desnecessários no ambiente de trabalho, não é novidade. Funcionários que desperdiçam insumos podem ser advertidos, suspensos e até despedidos. A novidade é pensar que "bom dia" também entra nesta categoria. Posso até vislumbrar o patrão passando sabão nas pobres subalternas: "Vocês estão pensando o quê? Que meu dinheiro é capim?! Onde já se viu, distribuir bom dia assim, para qualquer um que entrar no prédio?!"

Algumas vezes, de acordo com o nível de estupidez  do interlocutor, até ficamos receosos de soltarmos um sorridente "bom dia" e recebermos em troca um daqueles chavões de grosseria, como "se for bom, amanhã eu te digo" ou "não há de nada de bom neste dia". Honestamente, eu preferiria receber qualquer uma destas respostas. Seria uma prova de que as atendentes estão vivas. Por vezes, penso que estou diante de esculturas de cera do Madame Tussauds, até que me dou conta de que as estátuas costumam ser mais expressivas.

Sabe aquele insuportável sistema, tipo Captcha, que - a pretexto de impedir spam e evitar automatização nas buscas virtuais - só serve para confundir nossos olhos com hieróglifos ilegíveis e atrapalhar nossa vida corrida de eterna procura por Conhecimento e Sabedoria (também conhecido como Google)? Pois é, frequentemente penso que deveria ser desenvolvida uma ferramenta similar aqui no prédio, algo que comprovasse que as recepcionistas não são robôs. Quase sempre penso em dar um soco no balcão da recepção e gritar "Bom dia! Se você é humana, repita comigo: J - h - 2 - B - x - Z - 3 - 5."

Já pensei que o Setor de RH do condomínio talvez tivesse participado de programa inclusivo para contratação de estrangeiros fugitivos de algum regime ditatorial, que não falam língua portuguesa, ou quem sabe, no fomento à contratação de portadores de necessidades especiais: garotas mudas e sem movimento facial. Descartei a ideia no dia em que adentrei o saguão do edifício em velocidade hábil o suficiente para ver todas interagindo entre si, sorridentes e felizes, enquanto comentavam - em um sonoro português - algum fato que desaprovavam na conduta de uma terceira que não se encontrava ali para se defender das acusações desabonadoras. Naquele momento, respirei aliviado por constatar que não estava diante de zumbis devoradoras de cérebro, estátuas de cera ou surdas-mudas cubanas, dei um sorriso e disse "bom dia". Fez-se um silêncio imediato, o ar se tornou abafado - reza a lenda que alguns pombos caíram mortos no pátio externo do prédio -, olhares confusos foram trocados entre elas que, sem saberem como reagir, limitaram-se a permanecer caladas. Não eram zumbis, não eram mudas, não eram estrangeiras. Eram apenas mal educadas.

Um comentário:

  1. "Bom dia! Se você é humana, repita comigo: J - h - 2 - B - x - Z - 3 - 5."
    Sensacional !!!!!!!!
    kkkkkkkkkkkkkk

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