domingo, 12 de dezembro de 2010

Sem horas e sem dores... III

Quando estava aprendendo técnicas de redação argumentativa, nos tempos há muito idos do meu 2º Grau – Ensino Médio da garotada atual – foquei-me na informação de que se você pretende valorizar um argumento, deve deixá-lo para o final do texto, apresentando já no começo aqueles que você pretende refutar. Sendo assim, devo partir logo para a descrição dos fatos que impediram a noite de ser perfeita...
Dentro de uma Fundição Progresso lotada, já estava me preparando para o espetáculo à parte que a plateia sempre oferece em conjunto com a banda, quando comecei a tossir em razão do trio de rapazes que se encontrava ao meu lado, os quais soltavam as fumaças de seus cigarros diretamente sobre meu rosto, sem o menor pudor por estarem incomodando e por estarem em um ambiente fechado, dentro do qual, por imposição legal, é proibido fumar. Não fosse o bastante, uma dupla de garotos, em um dos camarotes, periodicamente demarcava seu território jogando cerveja, água, ou qualquer outro líquido gelado sobre a plateia, o que tornou bastante desagradável a permanência no mesmo recinto. Constatações de que o público carioca vem se tornando um tanto difícil... Para finalizar a “parte chata”, vamos ser honestos... Que som é esse da Fundição, sempre cheio de ecos e mal equalizado? Algumas vezes, tornava-se impossível entender as letras do que estava sendo cantado! E, em tempos de “Rebolations”, deixar de ouvir as letras do Teatro Mágico é deixar de testemunhar momentos de notável inspiração literária, há muito evadidas da música brasileira...
Finda a parte refutável, passemos às impressões causadas pelo show! E que show, me’irmão?!
Energia. Essa foi a sensação mais transmitida ao longo de quase três horas de música repleta de intensa carga emotiva! Um show histórico, no qual foram comemorados os sete anos de formação da banda. Uma festa realizada no palco, com direito a convidados, à execução de um “Parabéns a você” e a abraços distribuídos diante de um simbólico brinde representado por “Libiamo, libiamo ne lieti calici” da ópera “La Traviata”.
Mas estou me antecipando... Este foi o final do show, duas horas e cinquenta minutos depois de um estrondoso bloco iniciado com o poema “Amadurecência”, seguido de “Abaçaiado”, “Camarada d’água” e “Pratododia”. Essa introdução por si só já avisava aos presentes o tipo de show que viria pela frente.
Uma noite repleta de surpresas, trazendo uma citação em flauta de “Atirei o pau no gato” dentro de “Cidadão de papelão”. A singela coreografia no ar, iluminada por um belo tom lilás, emoldurando “Sonho de uma flauta”, levando ao delírio os espectadores. E para minha total estupefação, um lindíssimo “Wish you were here” que – sou capaz de apostar – deixaria Roger Waters extasiado! E não podia passar despercebido o passinho “Moonwalk” arriscado pelo Anitelli durante uma breve “Billie Jean”, que embora incompleta, foi mais que suficiente pra homenagear o Grande Mestre Michael Jackson!
E quando o convidado Leoni subiu ao palco, cantando o clássico “Garotos II”, a ovação foi geral, seguindo ao longo de todo o bloco, que teve “Realejo” iluminada pelos aparelhos celulares da plateia, “Só pro meu prazer”, que contou com a incidental “Com eu quero”, trazendo um pouco da atmosfera dos anos 80 para dos dias atuais, a qual chegou ao auge com “A fórmula do amor”, finalizado com “Xanéu nº 5”. Foi quando entraram no palco os segundos convidados, Caio Só e Os Varandistas e o Anitelli apresentou uma faixa do terceiro álbum, calminha, “O que se perde enquanto os olhos piscam”, e que pretendo muito em breve apreciar sem moderação quando o cd sair do forno. Uma pausa para introspecção com “No ar” e “Vagalumes”, tirando-me um sorriso do rosto com os primeiros acordes de “Elephant Gun” do Beirut.
E já que estamos falando em instrospecção, dentro desta resenha cabe um espaço para descrever este momento realmente incrível e incrivelmente real. Minha maior surpresa foi quando, após assistir a diversos shows do Teatro em que eles nunca a cantavam, lá estava ela, “A pedra mais alta” – de longe a minha favorita! – belíssima por si só, e desta vez incrementada com um breve “Bolero”, de Ravel. Não dava para ter perdido este show!
No mais, já tendo assistido outras duas vezes a este “Segundo Ato”, eu já esperava pela guerra verbal dos grupos representados pelo “Omovedô” e pelo “Carejangrejo”, após a execução de “Zaluzejo”, e pela gigante figura assustadora que marca presença em “O mérito e o monstro”, pelo movimento ascendente de mãos e palmas em “Pena” e, claro, por “Ana e o mar” que, para minha surpresa, não foi tocada, mas que nem por isso tirou o mérito e a beleza deste show comemorativo pelos sete anos da banda, que teve seu encerramento com a espetacular “Reticências”.
Ou melhor, seu quase encerramento, porque houve bis, no qual, além dos dois primeiros convidados, subiram ao palco os integrantes do Forfun, e uma linda homenagem ao eterno poeta Cazuza levou abaixo a Fundição, mal começaram as primeiras notas de “Exagerado”, à qual emendou-se – como não poderia deixar de ser – “O anjo mais velho”, agora sim, encerrando a noite deixando aquele gostinho de saudade e a pergunta que sempre fica na cabeça a cada final de um show do Teatro Mágico: quando será qie eles voltam?
Que não demore muito, pois seu público fiel anseia por isso pelos próximos sete anos, e que venham outros sete, e outros sete, e outros e outros e outros...
Ao Teatro Mágico, parabéns pelo aniversário. A quem esteve no show, parabéns por terem aproveitado a oportunidade de estarem presentes neste momento emblemático. E a todos os seus fãs, parabéns por dedicarem sua admiração a uma banda que faz cada vez mais por merecê-la. Sem horas e sem dores, respeitável público pagão, até a próxima!

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