A bola da vez hoje foi o lixo fascista Olavo de Carvalho. Faço parte do time que celebrou sua passagem para o diabo que o carregue. E faço sem nenhuma dor na consciência. Pergunto "e daí?" da mesma forma que perguntou seu Jair quando lembrou ao mundo que não é coveiro. E não, não me igualo ao Seu Jair.
Uma parcela da esquerda parece que ainda não compreendeu que ser esquerdista é lutar contra uma opressão que está acontecendo, decorrente das relações criadas e mantidas dentro do sistema capitalista. Não se luta apenas contra uma ideia de opressão, uma teoria genérica e idealizada, que supostamente seria praticada. Luta-se contra uma opressão que acontece todos os dias e segue nos matando. Mas, para uma parcela da "esquerda fofinha" (não uso o termo "cirandeira" por respeito a uma manifestação folclórica), ser esquerdista não é lutar, mas fazer por merecer uma medalhinha dourada por bom comportamento, assim considerado o comportamento com escopo assimilacionista, que tenta se encaixar nas normas que estruturam e são estruturadas pela mesma relação de opressão da qual essa mesma esquerda é vítima. Em suma, tenta ser aceita pelo opressor.
E lá vou eu mais uma vez citar Paulo Freire, lembrando quando ele diz na sua obra Pedagogia do Oprimido, que a relação de opressão somente existe quando o opressor a inaugura. Sem a figura do opressor, não há o oprimido por não haver quem dê início à opressão. Aqui, volto a chamar atenção para o fato de estarmos vivendo uma opressão que já acontece. E pela qual, se ainda não estamos mortos, foi por puro acaso. Porque esse é o objetivo do opressor. Oprimir para exterminar.
Quando vemos Seu Jair a serviço da burguesia dar de ombros e perguntar "e daí?" enquanto centenas de milhares de pessoas morrem asfixiadas por uma doença para a qual já havia vacina, estamos vendo a burguesia dar de ombros e perguntar "e daí?" para a morte de cada um de nós que não somos classe dominante.
Então, não. Para essa esquerda que acha que ser esquerdista é vestir fantasia de unicórnio e viver numa idealização de paz e amor, e que insiste em equiparar a vida do oprimido à do opressor, sob o manto fictício de que todas as vidas importam, faz-se necessário lembrar que o desrespeito ao nosso direito de viver somente existe quando a opressão pelo nosso extermínio é inaugurada. E por isso, o nosso "e daí?" quando a vida de um fascista é extinta em nada se equipara ao "e daí?" proferido pelo Seu Jair.
Quem inaugura a opressão são eles. E se você não deu início às relações estruturais de opressão que visam à extinção dos seus pares, então pare de se colocar em pé de igualdade com quem deseja sua morte quando você só deseja viver em paz. E sua vida em paz não acontece porque existe a figura do opressor. Por isso, rebelar-se é legítimo. Como é legítimo aplaudir e vibrar a morte de Olavo de Carvalho, que partiu deste mundo tarde demais.
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