sexta-feira, 8 de junho de 2018

Intervalo

Intervalo

Costuradas como colcha de retalhos,
Faz-se a vida de amargura em amargura.
Um mosaico de estreitas aberturas:
Interregno chamado felicidade.
Finitude que persiste entre a fronteira
da dor com a dor, e que muitos nomeiam,
com tolice e singeleza, eterno amor.

Mas, qual eterno! Amor é bem, e como tal
Não há de resistir às intempéries!
Feito rocha, que do mar bebe água e sal,
Esfarela-se em areia que o vento leva...

Queiram os deuses, em meu suspiro derradeiro,
quando, para sempre a luz nos olhos se apagar
esteja eu imerso num ínterim de júbilo,
que ligeiro passa qual piscar de pálpebras,
decote diminuto na colcha da vida,
elo de união entre consternaçōes.

Quando a morte a meu encontro caminhar,
esteja eu vivendo o intervalo,
no respiro entre tantos dissabores.
Que me venha ao fim de um, antes do outro
- inerente consequência do viver -
que me ache com entrelaçadas mãos,
sorrisos cúmplices, abraços calorosos,
dentro daquilo que é finito: o tal amor.

Para levar comigo à eternidade
A ilusão de que o finito é imortal:
De que o amor durou ao fim da existência.

Gustavo Carneiro de Oliveira
Rio de Janeiro, 08 de junho de 2018.

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