segunda-feira, 9 de julho de 2012

Memórias Perdidas

Ao envelhecer, o ser humano tende a perder sua memória imediata e a de curto prazo, concentrando-se em eventos longínquos, rememorando tempos distantes, de uma época em que a sanidade física e a mental eram companheiras mais presentes.

Por vezes, senti-me aterrorizado, pensando em como deve ser ruim ver o corpo se deteriorar aos poucos e, junto com ele, a lembrança das experiências que acabamos de vivenciar - bem menos interessantes que as da juventude, é fato -, como aquela desagradável dor nas articulações causadas pelo leve ato de espreguiçar. Causava-me imensa angústia imaginar que triste prisão deve ser viver no passado, pensando em amigos que se foram e parentes já mortos, sem ao menos ter a consciência do mundo ao seu redor.

Hoje, percebo o quanto a natureza é sábia. Envelhecer não deve ser um processo fácil, especialmente quando vemos o tempo passando por nós, levando consigo muito de nossa história, carregando para longe pessoas, lugares e coisas que amamos. Pior que estar só é ter a consciência de estar só. Como sempre repito à exaustão, a ignorância é uma dádiva e quando apagamos de nossa mente os estalos que nossas articulações têm vivenciado nas últimas semanas, concentrando-nos nos desafios de corrida e natação que vencíamos quando jovens, não será isto um recado da natureza para nos aliviar os ombros do peso de uma existência frágil e penosa?

Quando um dia é sempre igual ao anterior e, durante os últimos cinco ou dez anos, simplesmente apagamos o que fizemos no dia anterior, estamos resumindo nossa impossibilidade de andar a apenas algumas horas, as últimas. Assim, diminuímos o tédio de estarmos anos a fio em uma cadeira de rodas. Quando lembramos nossos melhores amigos de juventude, sem nos darmos conta de que todos estão mortos há anos, estamos apenas vivendo o ontem, como se os tivéssemos encontrado há, quem sabe, uma semana ou um dia...

Assim, o velho mantém-se jovem, renovando-se a cada dia dentro do universo que é sua mente, permitindo-se viver uma vida que seu corpo decrépito insiste em tentar negar.

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