quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Livre mercado não é para você, pequeno burguês

Acorda, amor. Não existe livre mercado. Pare de se iludir com as promessas do capitalismo. Você tem um mercadinho na esquina, compra de fornecedores em quantidade e valores específicos para poder manter seus preços e sua pequena taxa de lucro, certo? Você consegue praticar os mesmos preços de grandes corporações como Walmart, Assaí, Extra? Sua lanchonete de bairro consegue concorrer com redes gigantescas como McDonald's e Burger King?

O "livre mercado", como tudo no sistema capitalista, só confere liberdade a quem detém o capital. Quem dita as normas são os grandes monopólios. E adivinha só, esses monopólios só não esmagam sua lojinha de bairro com mais força justamente porque existem regras estatais limitadoras, que regulamentam as atividades comerciais, como leis antitruste, anticartel e antidumping, que minimizam os efeitos catastróficos da concorrência desleal. Ou você consegue vender uma refeição completa a R$ 0,99 como faz o iFood, operando em prejuízo até se firmar no mercado porque dispõe de capital suficiente para se permitir baratear os preços até quebrar toda a concorrência e abocanhar o mercado inteiro depois?

A tendência do capitalismo é criar monopólios, nos quais as grandes corporações engolem as pequenas e estabelecem os padrões de mercado conforme seus próprios interesses. Ilustrando com um exemplo prático para ser didático: você tem uma pequena farmácia, vende um pacote de fralda a R$ 50,00, uma caixa de remédio qualquer a R$ 10,00, porque consegue comprar do fornecedor as cem unidades que abastecem a seu estoque no valores respectivos de R$ 35,00 e de R$ 6,00, cada um. Aí, entra uma Droga Raia do ladinho do seu pequeno comércio. A rede consegue comprar a R$ 20,00 e a R$ 3,50 porque enquanto você compra cem unidades, ela compra um milhão, o que lhe permite revender a R$ 30,00 a fralda que você vende a R$ 50,00, e a R$ 5,00 o remédio que você vende a R$ 10,00.

Preciso falar mais alguma coisa? Para concorrer minimamente, você terá que adaptar seus preços para torná-los mais atrativos e manter sua clientela, certo? Vai ter que demitir funcionário, vai ter que reduzir sua margem de lucro, vai ter que trabalhar dobrado para cobrir a ausência do empregado que acabou de demitir... e vai seguir chamando isso de liberdade? Liberdade de seguir as normas que uma grande corporação lhe impôs? Até não aguentar mais e, na pior das hipóteses, decretar falência da sua farmacinha. Na melhor, vendê-la a preço de banana para a Droga Raia.

Quando todo o mercado em determinado segmento for dominado por uma corporação monopolista, o que vem a seguir é o lobby político que aquela corporação pode fazer para modificar as normas legais que regulamentam o comércio, abolindo, por exemplo, os limites que impedem a formação de um cartel, como aconteceu com a AmBev. E o lobby vai ganhar força porque gente como você, que tem aquela lojinha de produtos de informática numa cidadezinha de interior vai ser cooptado pela propaganda capitalista que vai te convencer que você é livre para atuar como bem entender dentro do mercado dominado pela Apple e pela Microsoft. Só não vão te dizer que se você não fizer o que elas querem, você vai fechar as portas como tantas outras fecharam antes de serem engolidas, bem antes de você chegar.

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