domingo, 24 de setembro de 2023

A branquitude e seu passe livre para as drogas

— Ain, Guto, você briga pela legalização da maconha sem compromisso nenhum porque o que você quer, na verdade, é ter direito de consumir um beckzinho na praia sem a polícia te parar.

— Meu bem, eu sou um homem branco. Para mim, a maconha já é liberada na praia, em casa, na rua, ou em qualquer outro lugar. Se eu quiser ir agora para uma boca comprar maconha, à luz do dia, eu vou comprar, vou colocar na bolsa, vou andar por esse Rio de Janeiro inteiro com ela e não vou ser sequer olhado por um policial. Em quase 17 anos morando no Rio, eu só tive a minha mochila revistada UMA ÚNICA vez. Foi numa blitz que rolou num ônibus que eu estava, voltando do trabalho, uns quinze anos atrás, e só aconteceu porque eu provoquei o policial que ia passar direto por mim para abrir a bolsa do rapaz negro ao meu lado, quando eu perguntei porque ele não iria me revistar também. "Você não precisa", ele disse. E eu respondi "Não preciso por quê?! Porque que sou branco? Porque eu estou de terno e gravata? E se eu estiver com droga ou arma aqui na minha maleta, você vai passar direto por mim para revistar uma pessoa ao meu lado, só porque ela é negra?" Ele me revistou com toda má vontade do mundo e voltou a atenção para seu "alvo". Então, não, meu amor, eu não brigo pela legalização da maconha para ter direito de fumar um beck na beira da praia ou na baladinha. Se eu quisesse sentar à porta da minha casa agora e acender um baseado, eu faria com a certeza de que nada iria me acontecer. A briga é justamente porque existe uma população carcerária de 830 mil presos, dos quais quase 45% sequer foram julgados. Jovens pretos e pardos somam mais de 60% dessa população. 55% das mulheres presas estão ali por tráfico ou associação ao tráfico. Normalmente pessoas pegas no varejo da droga, cujas famílias crescem sem mãe ou sem pai, porque estão na cadeia. Já o senador branco com meia tonelada de pasta base de cocaína no helicóptero... minhas pautas, inclusive, são pela liberação de todas as drogas e não só da maconha. Então, não fala besteira, amiguinhe. Se eu quisesse cruzar os braços e não mobilizar esforço algum, eu continuaria tendo direito de fumar um baseado na praia. Então, minha mobilização é por essas pessoas presas por portarem um cigarrinho no bolso, e que sabemos, têm cor e endereço específicos.

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