sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O Cansaço da Coerência

Ser coerente cansa e eu estou de saco cheio de tentar me manter coerente o tempo todo. É exaustivo. Já xinguei mulher fascista. Já xinguei gay fascista. Já xinguei negro fascista. E já quis surrar cada uma dessas pessoas. "Ain, Guto, você não se envergonha de querer bater numa minoria oprimida só porque ela é fascista?" Sinceramente, não. E tento nem pensar muito a respeito.

Quem me cobra coerência é sempre quem não dá o exemplo. É sempre aquele homem hétero que passou a vida toda fazendo bullying com a gay afeminada na escola quem me questiona se eu não fico "constrangido por adorar Che Guevara, mesmo ele sendo homofóbico". Como se eu adorasse Che Guevara. Como se a patologização da homossexualidade não tivesse sido invenção da ciência produzida pelo capitalismo.

Vi um vídeo de um idoso cadeirante, vestido de verde e amarelo, em manifestação pró-golpe de estado, numa cadeira de rodas motorizada, tentando atropelar um grupo de pessoas resistentes. Se fosse comigo, eu teria chutado a cadeira de rodas de lado para fazê-la tombar e ele bater a cabeça no chão. É capacitismo valer-me da deficiência física de alguém para atacá-lo? É. Mas, não fui eu quem mandou paraplégicos para câmara de gás. Menos ainda sou eu o paraplégico que defende esse tipo de medida e atropela quem milita por políticas que respeitem direitos humanos.

Sinceramente, tô pouco me fodendo se eu tiver de levantar a voz para uma mulher supremacista branca. Essa gente não merece minha coerência e eu estou farto por diariamente me exercitar para eliminar minhas contradições. E vejam bem, não estou falando aqui de "mulher que vota em Bolsonaro". Estou falando da que vota por alinhamento com seu discurso de ódio. Há sempre aquelas pessoas que foram enganadas, que acreditam nas fake news que o pitam como um cara do bem. E não me refiro a essas. Com essas eu compartilho informações, dialogo e oriento. Refiro-me àquelas que realmente se identificam com políticas de extermínio. Essas só recebem de mim o meu ódio.

Para fascista não me sinto na obrigação de dar o meu melhor. Como eles mesmos dizem, essa conversa de racismo, misoginia, homofobia, capacitismo, xenofobia... Isso é tudo mimimi que segrega mais do que une quando se tratam de nazifascista. Não vejo cores de pele, vejo racistas. E odeio a todos da mesma forma. Não vejo orientação sexual e gênero. Não discrimino. Odeio igual. E acho que devemos eliminar todos igualmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário