quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A forma versus a matéria

Direito à manifestação é legítimo. Inclusive, tenho andado bem irritado com essas postagens Paz-&-Amor® que mostram "nós" em 2018 com figurinha ninguém-solta-a-mão-de-ninguém®, e eles em 2022 com estrada em chamas. Se tivéssemos parado este país quando um genocida foi catapultado ao Planalto, talvez hoje não tivéssemos que suportar o luto por 700.000 vidas ceifadas numa pandemia. E vamos combinar que essa figurinha é mentirosa pra caralho e no fim, todo mundo soltou a mão de todo mundo, do jeitinho que o capitalismo quer.

Problema não é a forma, povo. É a matéria. Não é por haver manifestação, mas pelo que eles manifestam. Nós também nos manifestamos. A diferença é que enquanto nos manifestamos por políticas de transferência de renda e redistribuição de riquezas, eles se manifestam pela manutenção à acumulação de capital e à perpetuação das desigualdades sociais. Enquanto nós nos manifestamos pelo povo oprimido, eles se manifestam para a burguesia que oprime.

Quando nos limitamos a atacar a forma com a qual o outro age, deslegitimamos nossas manifestações se usarmos as mesmas formas. E cá para nós, deveríamos aprender com essa gentalha, que agora está tomando o Centro do Rio debaixo de chuva, no frio, ajoelhando em xixi de ratazana e atrapalhando o trânsito em pleno feriado. Se fizéssemos algo do tipo quando nos retiram direitos, faríamos um barulho...

Precisamos atacar aquilo que embasa as manifestações desses que pedem o golpe militar enquanto o Estado se acovarda. Eles pedem a continuidade do fascismo. E o fascismo, por ser um movimento de massas, se regozija com a facilidade com a qual a massa o chama nas estradas bloqueadas.

E nós ficaremos olhando, estupefatos, pelas telas dos nossos celulares, esse show de horrores protagonizado por essa gente vestida de amarelo e verde, sem os confrontarmos, enquanto eles continuam matando pessoas por falta de tratamento, por falta de oxigênio, ou de fome causada pelo aumento dos preços decorrente do desabastecimento? Enquanto eles fazem saudação nazista cantando hino nacional, olhamos orgulhosos da nossa passividade bovina de quem não virou o Brasil de cabeça para baixo quando um torturador foi homenageado. E ainda os chamamos de gado?!

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