segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Racismo microempreendedor

Na minha bolha progressista, já é relativamente corriqueiro problematizarmos os rolês em que pessoas brancas ocupam o lugar do público que se diverte enquanto pessoas pretas ocupam o lugar de quem as serve. Mas, e quando o rolê tem gente branca se divertindo e também servindo, dá pra problematizar?

A pergunta que fica é: quão excludente é um rolê em que, mesmo numa sociedade racista que insiste em colocar a população negra na posição de subalternidade, não encontramos pessoas negras em número significativo nem mesmo entre os trabalhadores?

Minha hipótese, tomando por premissa a exclusão da população negra e evidenciando sua colocação em lugar de precariedade econômica, é a seguinte: o rolê é uma feira, organizada numa espécie cooperativa entre pequenos produtores e pequenos empreendedores. Até aí, louvável.

Acontece que só empreende quem tem capital para investir. E como o espaço é de microempreendimento, os proprietários, via de regra, são os mesmos que fabricam, que atendem, são os contadores, são os administradores dos próprios negócios, enfim, assumem a totalidade das atividades, razão pela qual são as pessoas que estão trabalhando na feira.

E aqui reside o problema: se o micro e pequeno produtor e empreendedor é a pessoa branca que está servindo, mas que tem capital para investir em um negócio, quanto da parcela negra da população tem um capital, ainda que pequeno para investir? E a outra pergunta, meramente retórica, é: quais as dinâmicas de acumulação de capital e do racismo que afastam a população negra da possibilidade de ter algum dinheiro para investir?

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