terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Como é ter HIV na Coreia do Norte?

VOCÊ SABE COMO A COREIA DO NORTE LIDA COM O HIV? E O BRASIL, VOCÊ SABE?

Algumas semanas atrás, através de um canal que sigo no YouTube, tomei conhecimento sobre a entrevista do Lucas Rubio no A Deriva Podcast, no qual ele falava sobre a República Popular Democrática da Coreia. Lucas Rubio é o Presidente do CEPS-BR, Centro de Estudos da Política Songun - Brasil, organismo dedicado ao estudo, discussão e disseminação da República Popular Democrática da Coreia, popularmente conhecida no Ocidente como Coreia do Norte, e dos seus pilares filosóficos e práticos: a Ideia Juche e a Política Songun.

Quem falou sobre a entrevista foi o Ian Neves, do canal Cortes do História Pública, canal de produção de conteúdo marxista para quem se interessa pelo tema. E na apresentação do evento, ao mencionar a profundidade do conteúdo, o Ian dizia, que "não importava qual seria a dúvida do espectador, certamente o Lucas Rubio a abordaria e a esclareceria".

De fato, as cinco horas de exposição sobre a Coreia que o Lucas apresentou no podcast foram talvez o conteúdo mais completo que eu já tenha visto sobre aquele país socialista, tendo realmente abordado uma gama imensa de temas como moradia popular, militarização do Estado, isenção tributária, taxas de emprego e desemprego, dentre muitos outros assuntos, esclarecendo e desmistificando a visão ocidental propagada por veículos tendenciosos de mídia a serviço de forças contratrevolucionárias.

Atualmente venho me aproximando de movimentos sociais de enfrentamento ao HIV/AIDS. Em um intervalo muito curto de tempo, uma pessoa muito próxima faleceu de complicações decorrentes da AIDS, diagnosticada tardiamente, e eu comecei a me relacionar com uma pessoa que vive com HIV, ativista da causa, o que fez com que eu me aproximasse, ainda timidamente, desse movimento, frequentando reuniões e tomando conhecimento de debates acerca de questões envolvendo a infecção pelo vírus. Estar num relacionamento sexual-afetivo sorodiferente, pouco tempo depois do diagnóstico tardio da pessoa que mencionei acima, e que veio a falecer, me trouxe um pouco mais de interesse pela causa, o que fez com que a pauta sobre HIV/AIDS começasse a estar mais presente nos assuntos do meu interesse. Assim, quando o Ian Neves comentou que na entrevista sobre a Coreia Popular, o Lucas Rubio tiraria qualquer dúvida, o primeiro pensamento que me veio foi "como é a questão da saúde pública na Coreia do Norte e quais são as políticas adotadas naquele Estado acerca de HIV/AIDS?" A pergunta surgiu junto com outra: "como o Estado coreano lida com a temática sobre direitos de pessoas LGBT?"

Sem necessariamente me surpreender, a entrevista não me tirou as duas dúvidas iniciais que me atravessaram, o que me fez pensar sobre como estamos tratando a questão sobre HIV/AIDS no nosso dia a dia. Pus-me a refletir sobre o assunto e percebi que o Ian Neves, ao citar a entrevista do Lucas, mencionando-a como apta a esclarecer todas as nossas dúvidas, simplesmente não cogitou a possibilidade de que uma dúvida sobre políticas de enfrentamento ao HIV/AIDS pudesse ser levantada. E não se trata aqui de demonizar o Ian Neves por sequer ter cogitado que a pauta sobre HIV/AIDS pudesse ser levantada, mas de criticar como nossa sociedade trata da questão.

O Ian é um professor de história e comunicador digital de esquerda radical, que demostra ter uma visão bastante empática e inclusiva, voltada à formação de pensamento emancipador para a classe trabalhadora, incluindo questões de pautas antirracistas, antipatriarcais, anti LGBTfobia nos debates que propõe em seu canal do YouTube. Não se trata aqui de acusá-lo de ter sido insensível ou alheio aos debates sobre HIV/AIDS, mas de questionar como se disseminam as informações acerca do tema na nossa organização social. É sobre a nossa estrutura educacional, de informação e de formação, e sobre o quanto essa estrutura permite ou não que debates sobre HIV/AIDS cheguem ao conhecimento das pessoas.

Falo da minha própria experiência. Embora não fosse uma pessoa completamente alienada de toda informação sobre HIV/AIDS, o tema não fazia parte dos meus assuntos cotidianos de discussão. E, se não tivesse passado pela experiência de perder alguém próximo e se não tivesse namorando uma pessoa que vive com HIV, muito provavelmente eu estaria até hoje distante de questões que hoje fazem parte das minhas conversas, leituras, preocupações e Cristo, e que foram trazidas por conta do movimento social do qual venho me aproximando, em especial do Grupo Pela Vidda - RJ que faz um belíssimo trabalho de prevenção, conscientização e acolhimento de pessoas que vivem com HIV. Hoje, a maior parte das pessoas com quem convivo, muitas das quais na lista dos amigos mais próximos, vivem com HIV e, graças a elas venho aprendendo um pouco sobre o tema, integrando-o com minha visão marxista da política. Mas, até bem pouco tempo atrás, se alguém me pedisse para levantar qualquer dúvida sobre a República Popular Democrática da Coreia, tenho absoluta certeza de que eu HIV não seria minha primeira questão. Não falamos sobre HIV no almoço de família, não falamos sobre HIV nas redes sociais, não pensamos no assunto quando não o vivemos.

Dezembro é o mês de conscientização sobre HIV. O Dezembro Vermelho, campanha instituída pela Lei nº 13.504/2017, marca uma mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a AIDS e outras IST (infecções sexualmente transmissíveis), chamando a atenção para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV. Acabei de participar do XX Vivendo - 20º Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV, evento de caráter multidisciplinar promovido pelo Grupo Pela Vidda - RJ no qual se relacionam a vivência das pessoas com HIV e AIDS, as contribuições da medicina e as discussões sócio-políticas e éticas. Foram realizadas mesas redondas, painéis de discussão, oficinas e outras atividades que procuram levantar questões atuais para quem vive com HIV/AIDS, constituindo-se como um importante fórum de capacitação e de intercâmbio entre pessoas de todo o Brasil.

Para mim, foi um importante evento que me permitiu estar por dentro de discussões sobre dados estatísticos sobre infecção, diagnóstico, adesão a tratamento, políticas públicas para garantir o direito à saúde, fornecimento de medicamentos pelo SUS, questões sobre patentes e interesses das indústrias farmacêuticas por trás das políticas de Estado implementadas no Brasil. Das pautas levantadas, pude observar que a falta de informação sobre o tema fora dos movimentos sociais ainda é um problema sério a ser enfrentado, em especial como medida de enfrentamento à estigmatização social que se impõe sobre pessoas que vivem com HIV. E que mesmo no mês de dezembro, quando supostamente se deveria falar mais sobre o assunto, os debates acabam restritos a poucos fóruns de discussão que não chegam como deveriam à maior parcela da população.

A partir disso, fica fácil entender que mesmo pessoas antenadas sobre inúmeras causas sociais, como o Ian Neves e o Lucas Rubio, não aventaram sequer mencionar como a República Popular Democrática da Coreia - RPDC lida com HIV/AIDS e quais são as políticas adotadas por aquele Estado: o que não é visto não é lembrado.

Hoje já sei por informação divulgada em 2019 pela UNAIDS Brasil que a chamada Coreia do Norte não se encontra na lista dos 48 países do mundo que impõem algum tipo de restrição no trânsito e na permanência de pessoas com HIV em seu território. Em 2015, ainda segundo informações da UNAIDS, era um dos 17 países que deportavam pessoas com HIV. Ainda não tenho informações sobre produção e distribuição de remédios pelo sistema público de saúde da República Popular Democrática da Coreia para pessoas que vivem com HIV, mas estou pesquisando. A informação combate o preconceito, tanto o que se manifesta pela xenofobia e racismo que recaem sobre questões envolvendo a República Popular Democrática da Coreia, quando a sorofobia e os estigmas sociais que recaem sobre pessoas que vivem com HIV.

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O Grupo Pela Vidda - RJ é uma organização sem fins lucrativos e se mantém através de contribuições da sociedade. Doações podem ser realizadas por meio de depósito informado, transferência bancária), para a conta no Banco Bradesco Agência: 0468, C/C: 165.355-5, ou pelo PIX, pela chave CNPJ 35798651/0001-53.

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