terça-feira, 16 de novembro de 2021

Não fui eu que comecei

No Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire fala sobre como o opressor "inaugura a opressão". Eu me encantei com essa expressão. A mim remete à nossa noção mais básica de justiça, quando somos ainda muito crianças e, ao sermos repreendidos por um adulto numa contenda, apontamos o dedo para o outro e dizemos "foi ele/ela quem começou!".

Ainda criança, a gente consegue entender a ideia de paz e tranquilidade, como o momento que preexiste ao conflito. E a justiça se faz quando é punido o responsável pela alteração daquela situação. Quando dizemos "quem começou não fui eu", usamos a ideia que Paulo Freire chama de "inaugurar a opressão". Justamente o pensamento formulado já na cabeça da criança de que "estávamos todos aqui em paz, até que ela/ele começou a perturbar".

O opressor é o criador da opressão, que é uma relação que somente passa a existir quando ele a inaugura. Se foi ele quem começou, ele que pare. E se a única forma de lhe parar for pela violência, esgotadas as tentativas de orientação didática, então que seja. Há vozes que simplesmente precisam ser caladas.

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