segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Olhares

Olhares

Do mundo que me precede,
Constituiu-se meu modo de ver.
Do tenebroso ao mais belo,
Apenas eu mesmo saberei,
O que se descortina perante meu olhar.

Nada valeria dar-te um espelho
Posto que nele, o sujeito que vê,
É o mesmo objeto que é visto.

Quem dera pudesse dar-te
Ainda que em momento tão breve,
Meus olhos, e somente eles!
Em verdade, dar-te-ia, se pudesse,
Por curto instante que fosse,
Para que dele te regozijasses,
Com tal intensidade, qual gozo eu,
Os sentidos pelos quais te absorvo.

Se apenas eu tenho o condão
De ser o sujeito que se apercebe
Do que me trazem meus sentidos,
De todos eles facilmente me despojaria
Para que num só instante,
Te enxergasses, te ouvisses,
Te sentisses, como te sinto eu,
E que espelho algum
Jamais te revelará.

Gustavo Carneiro de Oliveira
Rio, 17 anos e 5 meses depois, numa tarde em que Oyá se faz presente

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