Cuida então para que não se esvaneça
O semicerrar daqueles olhinhos
Que, expressivos, sorriem rutilantes,
E riem, como se o toque da ponta da língua
Fizesse-lhes cócegas ao tocar nos dentes
Quando em meia-lua seus lábios se dobram.
"Que faço eu?", em agonia tu perguntas.
Ah, quisessem os deuses pudesse dizer-te,
Sem pestanejar, dir-te-ia: "Segue!"
E se fracassares em secar-lhe o pranto,
E não mais vires a curva ascendente da boca,
Oferece teu ombro para que sobre ele
Repouse a cabeça, sobre a qual tuas mãos passearão.
Não sê leviano. Cuida! (Tu sabes fazê-lo).
Enquanto vertem dos seus olhos sal e água,
Abraça-o no silêncio das horas mortas
Até que não mais se molhem seus ombros...
E na manhã que se anuncia, quem sabe,
Tenhas o regalo de seres testemunha,
De olhinhos apertados e língua nos dentes.
Rio, 24 de outubro de 2024