terça-feira, 20 de julho de 2021

Quarenta, quarenta e um...

Ontem um amigo na casa dos 30 e poucos anos me perguntou como era ser um homem de 40 anos (para quem não sabe, tenho 41). Questionou se alguma coisa havia mudado na minha vida em razão de ter feito 40 anos.

O número pesa para muitas pessoas. Lembro de terem me feito essa mesma pergunta quando completei 18, uma idade que cria expectativas pela maioridade civil. E minha resposta foi unicamente "grande coisa ter feito 18, é tudo a mesma merda, não muda nada, a não ser que agora eu pratique um crime".

Meu palavreado era bem menos elaborado e eu era bem mais limitado intelectualmente para discorrer sobre o tema idade. Hoje, respondendo a uma pergunta feita forma tão específica, como a de ontem, sobre ser "um homem de 40 anos" posso dizer quase a mesma coisa que disse quando completei a maioridade.

Para mim, interna e pessoalmente, nada mudou quando fiz 40 anos unicamente por ter feito 40 anos. Então, ser um homem de 41, ou ter sido um de 40, de 38, de 35 anos, para mim não fez muita diferença em razão dos números. O tempo é uma medida criada pelo ser humano, e na natureza os processos se dão independentemente de estarmos contando ou não o tempo que levam para acontecer. Uma árvore que cai na floresta continua sendo uma árvore caída na floresta, ainda que não tenha alguém lá para ver. Ainda que não exista alguém para dizer o que é uma árvore ou o que é uma queda, ou ainda o que é uma floresta. O processo pode não ter sido nomeado ainda, mas está acontecendo.

Assim vejo a minha idade. Não me sinto velho, e não me pesa ter 41 anos. Não vou dizer que sou indiferente ao processo de envelhecimento. Mas, é isso: o que talvez venha a me pesar um dia, ou venha a me preocupar, são as transformações no mundo material e concreto, decorrentes do processo de envelhecimento. É a decrepitude física, são as dores, as incapacitações, as limitações impostas, a memória que eventualmente irá se perder, não por causa de um número que corresponda a uma quantidade de anos, mas ao próprio processo de envelhecer em si mesmo.

Na minha vida, experimentei dois momentos importantíssimos de autoconhecimento, que giraram uma chave existencial e me transformaram de forma significativa em "outra" pessoa. Um deles aconteceu quando eu tinha 22 anos, o outro aconteceu há menos de um ano, quando, por acaso, eu tinha 40 anos. Mas, não posso dizer que ter 22 anos ou ter 40 anos, são em si mesmo, de forma inerente às idades, representativos de uma grande mudança. Não vou descrever aqui as experiências que tive aos 22 e aos 40, porque não há espaço, mas sei que mexeram estruturalmente na minha forma de pensar e de ver as coisas.

É assim que funciona para mim. Um número é só um número. Os processos que se realizam no mundo material, estes sim, podem vir a me abalar negativamente de alguma forma. Não tem sido o caso até o momento. Por acaso, nunca me achei tão interessante e tão atraente como nesta idade. Mas, não é pela idade enquanto um número mágico ou um portal que atravessamos. É pela transformação lenta, gradual, que observamos dia a dia e, num dado momento, nos damos conta de que uma forma de ser deu lugar à outra.

Hoje não aliso nem escovo meus cabelos, com os quais vivi em pé de guerra durante anos, e amo meus cachos que finalmente se tornaram grisalhos. Tenho disposição física para me exercitar, para pedalar, para caminhar, para correr da polícia em manifestação. Meu rosto já apresenta algumas marcas da idade, que disputam espaço com as marcas de acne que ganhei de herança da adolescência. As cicatrizes deixadas pelas espinhas foram, durante muito tempo, um problema incontornável, que me obrigava a colocar filtros e edições em fotos para que eu não pudesse me confrontar com a imagem daquele que eu era. Hoje acho graça quando vejo fotos de dez, quinze anos atrás, em que eu parecia um desenho animado, de tanta edição. Minhas fotos atuais, em sua maioria, não levam filtro, e nunca me achei tão bonito em toda minha vida quanto me acho atualmente, com rugas, pancinha, marcas de acne e cabelo cinza.

Então, ser um homem de 41 anos, para mim, tem sido uma experiência positiva. E não por ter 41 anos, mas porque calhou de estar nesta idade quando as experiências de vida que tive e que me conduziram até aqui me transformaram em quem sou. Talvez quando eu sentir dor ao levantar da cama ou me sentir incapacitado de subir uma escada eu venha a ficar desgostoso, tenso e preocupado. E isso pode acontecer amanhã ou pode levar ainda outros 40 anos para acontecer.

Não me importa contar idade enquanto conceito prévio e abstrato, marcado em uma escala criada pela humanidade para medir o tempo. Importam-me as mudanças concretas, que acontecem no mundo material, aquilo que vejo no meu corpo, a pele que perde o viço, o músculo que perde o tônus, os ossos que rangem, o enfraquecimento da memória e do sistema imunológico, o funcionamento deficiente dos órgãos. Enquanto isso não chega, ser um homem de 40, de 41 de 42, de 43...não significa nada em si mesmo para mim.

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