quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Não-monogamia não é uma panaceia

Tem uma galera grande que, mesmo quando supostamente adere a modelos não monogâmicos de relacionamentos, não entende que a monogamia não deve ser normatizada e normatizadora. Opta pela não monogamia como se fosse um "modelo alternativo", uma "segunda opção", partindo já da premissa de que a norma é a monogamia, hierarquizando as formas de se relacionar.

Enquanto enxergam a não monogamia como uma "segunda opção" em vez de "uma opção" (tão legítima, tão válida, tão substancial quanto a monogamia), atribuem-lhe propriedades pautadas nessa mesma valoração, de acordo com a intenção subjacente à forma pela qual decidem enxergar a não monogamia como um modelo secundário. Assim, dentre tantas propriedades que lhe atribuem, é comum vermos que lhe caracterizam como uma "cura" ou "remédio" para os pesos inerentes a uma relação monogâmica. Outras têm caráter negativo, ou seja, subtraem-lhe toda ideia de comprometimento, retirando das relações não monogâmicas o próprio caráter de relação, num processo de apagamento das obrigações que toda relação carrega, independentemente da forma como se constituiu.

Relacionamento é um contrato pelo qual as pessoas envolvidas se comprometem umas com as outras para a manutenção do vínculo que se cria entre elas. Mas, em vez de observarem que a relação não mono traz em si o elemento "relação", ignoram esse núcleo substantivo e se prendem ao elemento adejtivador "não monogâmico", conferindo-lhe erroneamente o significado de liberdade total e irrestrita, quase como em oposição ao que consideram "a forma normal de se relacionar", que seria a monogamia.

Com isso, surpreendem-se quando constatam que antes do aspecto acessório "não monogâmico", tem-se o aspecto essencial "relacionamento". E por causa disso, não apenas se frustram como ainda causam sofrimento a quem embarca nas relações disposto a fazer cumprir as cláusulas do contrato firmado.

Não são poucas as pessoas que se chocam quando descobrem que uma relação não monogâmica se desfez, desgastou-se e enfrentou crises. "Mas, você não escolheu esse tipo de relacionamento para não ter dor de cabeça?" Não, meu bem. A não monogamia não é uma panaceia. E, exatamente por isso, muitas vezes uma relação também não nos atende, não pelo fato de ser uma relação não monogâmica, mas pelas pessoas nela envolvidas. Há traição, há desgaste, há conflitos de interesses, independentemente do tipo de relacionamento que se tem. Assim como um relacionamento monogâmico termina por N razões, com ou sem traumas, com ou sem traições, com ou sem estresse, terminam-se também relações não monogâmicas. Para não ter dor de cabeça já existe dipirona.

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