segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Racismo e a Relativização nas Discussões

Hoje vi uma foto de um rapaz e uma moça, ambos brancos, fantasiados de Aladim e Jasmine. O rapaz carregava em seus ombros um garotinho, moleque, de uns quatro anos, talvez, negro, que compunha o conjunto, fantasiado de Abu, o simpático macaquinho do Aladim.

Todos na foto pareciam felizes, inclusive o menino. Quem me mostrou a foto apenas me disse "Olha isto!". Fiquei algum tempo olhando sem compreender exatamente o que ele queria dizer com "isto". A fantasia do grupo? A beleza dos envolvidos? A composição da foto? Por alguns poucos segundos fiquei perdido, até que li parte do texto que acompanhava a foto e perguntei "é sobre racismo?". Era. "Não é um absurdo?"

Por mais uns segundos, minha mente vagueou pelo sorrisão da criança nos ombros do rapaz, ambos pareciam estar bem felizes juntos. Alguma relação de carinho parecia haver entre os dois. E resisti um pouco antes de enxergar racismo naquela imagem.

Depois de ter protagonizado, dias atrás, um pseudodebate no qual não pude sequer finalizar meu ponto de vista acerca de um ponto exposto e, antes de terminar de dizer o que eu tinha para dizer, fui sumariamente tachado de racista (eu, racista?! LOGO EU, RACISTA?!?!), tentei enxergar com outros olhos a situação exposta na foto - cobrando de mim mesmo para que não a visse com olhos de quem sempre carregou o privilégio e a comodidade de ter a pele branca em uma sociedade segregacionista como a nossa - até comentei, de forma vaga, concordando que a imagem era forte ao trazer um casal branco vestidos de príncipe e princesa e uma criancinha negra vestida de macaco, "Gente, que coisa..."

Mas, o que realmente me marcou ao ver a foto foi o semblante de alegria dos três ali. Não enxerguei racismo na relação carinhosa de duas pessoas brancas e uma criança negra. Até me culpei por não enxergar aquela forma "tão óbvia" de discriminação, segregação. Em algum ponto obscuro da minha mente eu cheguei a pensar que as pessoas que me apontaram o dedo, julgando-me racista, tinham razão. Que vergonha!

No entanto, tentando enxergar o melhor de cada um, prática esta que sempre tomo por princípio, felizmente, comecei a me perguntar: "será que alguém contextualizou a imagem?", "será que a criança não foi idealizadora da brincadeira?", "será que o casal de pessoas brancas não é de tios, amigos, ou mais, pais adotivos de uma criança negra?", "será que a atuação não era mais que apenas fantasia de carnaval, fazendo parte de alguma peça teatral ou algo de tipo?". Não creio que uma criança a quem alguém discriminaria por ser negra seria carregada e segurada com tanto afeto como aquela na foto, pelo casal que a discriminaria. Não creio.

Uns dias depois do tal pseudodebate que, ao que me parece, custou-me uma amizade, fui criticado por outro amigo - este permanece, felizmente - alegando que eu sou excessivamente "relativizador" e que algumas situações não permitem qualquer olhar condescendente, devendo ser sumariamente categorizadas valoradas, limitadas por uma caixinha, organizadas na prateleira, exigindo um julgamento imediato, sem ampla defesa, sem sopesagem dos fatores.

Vestir uma criança negra como um personagem, que calha ser um macaquinho, seria uma destas situações que não permitem qualquer tipo de relativização? Ainda que esta criança fosse adotada por um casal inclusivo que decidiu dar a ela um futuro digno, retirando-a de um orfanato? Ainda que esta criança nunca tenha tido uma oportunidade na vida de se divertir fantasiada do que quer que seja em um bloco de carnaval? Ainda que esta criança negra não seja a única em um grupo que contenha outras crianças também fantasiadas de Iago, sultão ou outros personagens da história do Aladim?

Não sei se algumas destas conjecturas é real, mas não consegui deixar de pensar nelas antes de apontar o dedo para o casal por uma foto, dentro de um contexto que não conheço, e julgá-los sumariamente como racistas, como fez o tribunal das redes sociais. Apenas para lembrar, este tribunal foi responsável pelo assassinato de Fabiane de Jesus, no Guarujá, em 2014, espancada até a morte após ser confundida com uma sequestradora de crianças. Apenas porque não relativizaram a situação. Porque não pensaram que “poderia não ser”.

A imagem pode ser impregnada de racismo? Pode, sim. Não conheço o casal, não conheço a criança, não conheço a circunstância. Então, é claro que pode! Mas, pode também não ser. E de pensar isto jamais abrirei mão.

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